A segunda parte do álbum folhas_fruto, do cantor e compositor Gustavo Galo, chegou às plataformas de streaming no último dia 3/7, fechando o quarto trabalho solo do artista, também integrante da Trupe Chá de Boldo.
fruto conta com sonoridade orgânica, baseada em banda composta por Lucas Gonçalves, Otávio Carvalho, Gongon, Cuca Ferreira e Tomás Oliveira, e traz aproximações entre a canção e a poesia. Galo reflete as mudanças em sua vida com a chegada do filho Lírio e da saída de São Paulo para viver no interior.
Confira abaixo o faixa a faixa onde o artista fala sobre cada uma das canções do álbum:
1. “música, um beijo”: Última música a entrar no disco. Por um momento fecharia o folhas_ fruto. Mas, às vésperas da masterização, o Ota (Otávio Carvalho, produtor do disco) e eu sacamos sua força para abrir o trabalho. Compus ela na estrada a caminho de São Paulo. O mote inicial era um simples desabafo. Criei uma letra agradecendo os prazeres, os excessos e, em especial, as amizades propiciadas pela música, mas em tom de despedida. às vezes é difícil sobreviver como compositor e intérprete das matérias que escolho. A cada disco penso em desistir. Acontece que, de repente, a música ensina que se por um lado nós temos fim, ela, a música, não tem. A despedida, então, se tornou um até logo, “cê sabe em breve eu apareço/ música, um beijo”.
2. “no princípio era o ritmo”: Poema de Alice Ruiz. Musiquei no “dia da poesia”. Me deparei com o texto no Instagram, postado pela própria Alice. Li o post enquanto preparava uma trilha para um trabalho de dança, no qual, Júlia Rocha dançava com nosso filho na barriga, grávida de 36 semanas. Os começos, enfim, me pegaram, em especial, esse começo comum, da poesia e da música e da dança, em vários cantos do planeta. Para me acompanhar, convidei o Arthur Nogueira, compositor que admiro muito e também um pesquisador dessa arte de interpretar poemas acompanhados de sons.
3. “nada na cheia”: Essa é a música que criamos, Júlia e eu, para “uma baleia encalhada na praia”, estrutura coreográfica dirigida por Marion Hesser e Andreia Yonashiro. Toquei e cantei a música ao vivo, Ota estava junto tocando synth, enquanto Júlia dançava com 36 semanas de gestação, sobre um espaço com quase nada em volta. a partir da água, elemento presente durante a dança, da imagem da baleia, os versos e as melodias foram se encaixando na música visceral. Júlia canta comigo. Gravamos depois do nascimento do Lírio.
4. “folhas aqui também“: Bateu uma vontade de deixar os discos com pedaços de um e outro. Como se batesse um vento que levasse matérias específicas de lá para cá. Esse assovio do Negro Leo, com a base feita pelo Ota e pelo Tiago Frugoli caiu como uma folha junto com o fruto.
5. “longes”: Parceria antiga com Enzo Banzo. Já havia registrado ela no EP recomeços que lancei com Lucas Gonçalves em 2023. Estava guardada na minha memória e veio a tona, sobretudo, pelo verso final. Esse “parto de mim” propicia leituras distintas. É proposital. “Parto de mim” no sentido de mudança radical, deslocamento de si e, ao mesmo tempo, o nascimento de uma vida. Tenho vivido intensamente os dois sentidos.
6. “canções pequenas“: Reparei que minhas canções têm letras curtas. Elas são pequenas. A música surgiu dessa constatação e, de novo, o começo embaralhado, comum, da música e do poema. Aprendi muitos poemas lendo os encartes dos discos e CDs do Itamar Assumpção, por exemplo, ou do Vitor Ramil, da Adriana Calcanhotto, do Jards Macalé.
7. “pequena árvore”: Já está presente em folhas. Poema de Alice Ruiz. Foi irresistível propor duas versões distintas para essa canção. Para mim, os dois haicais que compõem a letra sintetizam bastante tanto o caminho das folhas como o do fruto. Participação de Bruna Lucchesi.
8. “menino me nina“: Canção feita especialmente para ninar Lírio, meu filho. Nasceu da brincadeira com as expressões “nanar” e “ninar”, expressões utilizadas como sinônimos para fazer um bebê dormir. O som das expressões me lembrou de artistas cujo nome eram sonoramente similares aos das expressões. Naná Vasconcelos foi o primeiro nome que me veio a cabeça. A partir de Naná como inspiração, muito rápido, elaborei uma lista de artistas por quem sou apaixonado como, por exemplo, Nina Simone e Nana Caymmi. Se no começo do disco agradeço a música, aqui na última faixa retorno novamente para agradecer. Me despeço com a tentativa de fazer meu filho dormir.
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