Quando o Araújo Vianna tinha a Praça da Matriz como endereço, Juarez Fonseca ainda era uma criança do interior, que viajava à capital gaúcha esporadicamente. Ele lembra bem, no entanto, do lugar. “Era coberto por uma vegetação parecida com parreiras”, recorda, em um encontro com o Arqueólogo.
Mais tarde, Juarez foi morar na capital, matriculou-se no jornalismo da UFRGS, que à época ficava ao lado da Redenção, e passou a viver lado a lado com as movimentações do parque e, claro, do Araújo Vianna. Na sequência, começou a cobrir profissionalmente os shows do auditório. E não foram poucos. Entre eles, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Hermeto Paschoal, Djavan e João Gilberto, que rolaram nos ano 70.
Este último, por sinal, foi um dos mais marcantes, mas é do show de Caetano que ele lembra cada detalhe. Difícil esquecer, por exemplo, do carinho do músico com o público que ficou de fora. “Era comum que pessoas ficassem na porta, esperando que os shows começassem e alguém ficasse com pena e liberasse sua entrada. Foi o que aconteceu neste dia”, lembra o jornalista. “Os berros desse pessoal começou a interferir na apresentação, e Caetano pediu à produção que desse um jeito. Os portões foram abertos e as últimas cadeiras livres foram ocupadas.”
Ainda dos anos 70, Juarez relembra o Festival da Primavera, que contou com artistas como Carlinhos Hartlieb, Belchior e Jorge Mautner, entre outros, em início de carreira. “Havia uma menina chamada Luiza Maria, que apesar de ser uma loira linda, foi uma aposta que não deu certo”, comenta. “Tinha ainda um cara que todo mundo achou superantipático. Ele estava sempre enchendo o saco, reclamando disso e daquilo para todo mundo. Seu nome era Fábio Júnior e, anos depois, ele viria a ser o que é.”
Sim, a memória de Juarez não falha, mas não são só lembranças que ele guarda. O jornalista possui, em seu acervo, algumas relíquias. Entre elas, mais uma foto da sessão assinada por Tonho Meira para divulgação do Defalla (uma delas, já mostramos aqui), que você vê no site do Araújo Vianna.
Há ainda um registro de Giba Giba, apresentando-se no Som Livre Exportação, da Rede Globo. Apresentado por ninguém menos que Ivan Lins e Elis Regina, o programa era itinerante e rodou o Brasil. Para ver a imagem, acesse o site do auditório.
Após tantos anos de uma estreita relação com o Araújo Vianna, Juarez lamenta tê-lo visto em estado tão depredado, tomado por moradores de rua e bichos e com a lona caída. “O auditório sempre sofreu depredações, especialmente por estar em meio ao parque. Gatos, pombas e vândalos tomaram conta, e alguns apropriaram-se para o mal”, comenta, para logo ressaltar a importância da reforma que está ocorrendo. “Agora, com a iniciativa privada, acredita-se que a situação será revertida. O Araújo Vianna é importantíssimo e será um momento de revitalização. Ele será o maior lugar de Porto Alegre, com conforto, uma acústica decente e em um lugar central. Terá cuidado, porque a empresa que cuidar dele por dez anos vai dispor de funcionários diariamente”, comemora.