Mais pro início do ano, durante a turnê de Vista Pro Mar, bati um papo muito bacana com SILVA sobre a carreira dele até então. Na ocasião, descobri que o Lúcio realmente é o cara incrivelmente doce que parece ser em suas músicas. Por isso, é uma satisfação imensa poder falar sobre Júpiter, álbum que ele lançou hoje – e que prova a evolução do artista a cada novidade.
Um dia antes da chegada do disco, ele publicou uma carta explicando um pouco sobre os caminhos que o levaram até Júpiter (o álbum, não o planeta – provavelmente). Mais do que o lugar, o título se relaciona com o momento do músico, que em 4 anos vem mudando bastante e pra melhor. “Uma proposta e alternativa contra esses dias tão estranhos de hoje, em que ainda precisamos conviver com tanta mesmice representada por preconceito, intolerância e todo tipo de violência. Júpiter, aqui, é um lugar onde o amor tem a possibilidade de vencer, sem adiamentos ou desculpas”, descreve na publicação.
Do cenário religioso de sua vida em Vitória até aqui, SILVA vem se soltando aos poucos, rompendo qualquer previsibilidade em suas composições, sem deixar de ser bom moço. Já foi surpreendente ver ele falando em pele e nudez no single “Noite” alguns meses atrás. Portanto, dá pra imaginar a felicidade que senti ao ouvir ele cantar “Como eu perdi tanto tempo / Perto de você que adora dizer não? / E fala tanta merda / Tanto preconceito e contradição”, né? Essa faixa, “Notícias”, fecha o álbum com o sabor inconfundível da libertação.
Confesso que senti um misto de invejinha e alívio ao ouvir “Sou Desse Jeito”. Um cara que canta “Das coisas todas, preferi o amor / Eu preferi o amor e ser bem como sou” demonstra uma confiança tão pura que quase causa cobiça, mas acaba fazendo a gente se sentir abraçado, mais à vontade consigo. Ainda bem!
“Deixa Eu Te Falar”, uma das minhas favoritas, tem uma sensualidade própria, costurada no ritmo, nas letras e na forma como Silva entoa a voz. Logo no começo, somos arrebatados pelo verso “Habitar você é meu plano A”, seguido dos hipnotizantes “Não vou te falar qualquer coisa vã / Direi palavras certas de manhã / Pra te despertar, pra te amanhecer”. A firmeza é sempre uma arma sedutora, não?!
Uma das coisas que eu mais gostei nas melodias desse disco é a pureza das batidas, que se sobrepõem aos poucos, pra gente poder degustar cada uma delas sem pressa. Essa tranquilidade flerta com o ouvinte em detalhes de todas as onze faixas. Quem está do lado de cá se deixa levar, “deixa esse amor cadenciar manso”, como SILVA sugere em “Feliz e Ponto”.
Júpiter vem cheio de propostas, de paixões querendo virar ternura e suor, de vontades e de libertação. Até o minimalismo das composições é uma provocação deliciosa; uma amostra da postura direta e firme que o artista quer passar. Poucos músicos conseguem comunicar toda essa força com a notável delicadeza de SILVA.
Ele não é o romântico cantando baixinho com um violão, nem o cara cool do R&B que embaralha frases vazias sobre sexo pra cobrir batidas confusas. Um artista que fala em escolher o amor sobre as outras coisas ao mesmo tempo em que dança descontraído seus próprios beats merece, e muito, toda a nossa atenção.
SILVA, visite todos os planetas do sistema solar, mas não deixe de mandar notícias – principalmente em forma de canções.