Aos 73 anos, Joan Baez tem a leveza de uma menina, alternando momentos de plena alegria e emoção, como na marchinha “Acorda Maria Bonita” – que interpretou rindo e lendo em português – e “Pra Não dizer que Não falei de Flores”, música de protesto composta por Geraldo Vandré, que fez o público de cerca de 2.800 pessoas levantar e cantar junto no Araújo Vianna, como um desabafo da geração que viveu os tempos da ditadura do Brasil.
Há mais ou menos 30 anos, a jovem Baez tentou se apresentar nas nossas terras, mas foi impedida pelo governo militar. “You are my first Brazilian audience”, disse ela ontem à noite, emocionada antes de cantar “Cálice”, de Chico Buarque, outra música com o peso de quem foi silenciado pela censura. O documentário norte-americano “There But for Fortune: Joan Baez in Latin America” conta um pouco sobre sua primeira vez no Brasil.
A turnê “An Evening with Joan Baez” já passou pela Argentina, Uruguai e Chile com músicas em português, inglês e espanhol, falas bem humoradas na nossa língua, com direito a termos e gírias locais. A empatia e comunicação com o público foram acima da média. De repente, alguém na plateia gritou “toca ‘Gracias a la Vida’!”. Ela respondeu sorrindo: “ok, I´ve heard your request” e logo em seguida cantou a música, que é da chilena Violeta Parra.
Assim como em toda a turnê, nós também ganhamos as versões de seu antigo namorado Bob Dylan, entre elas “Farewell Angelina,” e “It’s All Over Now Baby Blue”, que aumentou o coro de vozes do público hipnotizado. Parte da história do ex-casal é contada no filme “No Direction Home” de Martin Scorcese, que mostra a importância da Joan Baez no começo da carreira de Dylan.
“Imagine”, de John Lennon, foi a derradeira, interpretada como se fosse própria e recebida como um presente para quem dividiu com ela aqueles momentos. Ficou o desejo de paz e igualdade, que continua vivo desde os tempos de Woodstock.