Em 2008, Zé Ramalho lançou o álbum Zé Ramalho Canta Bob Dylan: Tá Tudo Mudando, com versões em português — e adaptadas à realidade brasileira — do ídolo do folk. Foi o segundo álbum de versões, sendo o primeiro dedicado à Raul Seixas, em 2001. Robertinho de Recife assinou a produção e colaborou tocando guitarra, cítara, baixo e viola de doze cordas. Frejat, João Ramalho, Phil Braga, Chico Guedes e Dodô Moraes também participam do disco.
Na capa, Zé Ramalho segura um cartaz, remetendo ao clipe de “Subterranean Homesick Blues”, de 1965, em que Dylan exibe cartazes com trechos da letra enquanto a música toca ao fundo.
Além de adaptar as letras para o português, Zé Ramalho teve o cuidado de preservar as rimas das canções originais, ao mesmo tempo em que trazia as composições, tanto letra e melodia, para a realidade brasileira: “Mr. Tambourine Man” virou “Mr. do Pandeiro”, já em “Rock Feelinngood”, o eu-lírico sente o cheiro do feijão vindo da cozinha. Com esse trabalho, o músico possibilitou ao brasileiro se identificar um pouco mais com a obra do ídolo do folk. Além disso, o trabalho rendeu a ele uma indicação ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro, em 2009, mas acabou perdendo para o NX Zero.
No embalo da cinebiografia de Dylan, Um Completo Desconhecido, em cartaz nos cinemas, apresentamos 5 fatos sobre o álbum do nosso “Dylan do sertão”:
Virou trilha de novela da Globo
Assim como muitas músicas do repertório de Zé Ramalho, o disco em homenagem a Dylan também foi parar em trilha sonora de novela. “O Vento Vai Responder” — versão do clássico “Blowin’ in the Wind” —, fez parte da trilha sonora da novela Caminho das Índias, exibida pela Globo em 2009. Ter a música tocando na novela levou a interpretação de Zé Ramalho a um público ainda mais amplo, tornando a adaptação brasileira mais conhecida.
Um toquezinho de Beatles não faz mal
A única faixa cantada em inglês no álbum é “If Not for You”. Zé Ramalho escolheu manter a letra original e incorporou um ritmo abrasileirado acelerado ao arranjo, inspirado na versão que George Harrison gravou em seu álbum All Things Must Pass (1970).
Vale lembrar que, anos depois, o músico lançaria Zé Ramalho Canta Beatles (2011), amarrando as referências do quarteto de Liverpool em sua discografia.
Dois anos de lapidação
Zé Ramalho dedicou dois anos para adaptar as canções de Bob Dylan ao português, esforçando-se para manter a essência das letras originais. Ele buscou preservar a visão poética de Dylan, mesmo ao introduzir metáforas e contextos diferentes, garantindo que as versões ressoassem com o público brasileiro.
Vale lembrar de Zé Ramalho já cantou versões de Dylan em momentos anteriores na carreira, como no clássico show Grande Encontro, de 1996. A letra em português de “Tomorrow Is a Long Time” (ou “O Amanhã é Distante”) ficou por conta de Geraldo Azevedo e Babal.
O paraibano também ficou conhecido como “Bob Dylan do sertão” pelo jeito falado de cantar, semelhante ao músico norte-americano, que compõe como se contasse uma história em forma de crônica.
Música tradicional como inspiração
Tanto Bob Dylan quanto Zé Ramalho se inspiram em suas raízes musicais para compor. Dylan bebe da tradição do folk norte-americano, enquanto Ramalho traz elementos do cordel e da música nordestina brasileira, incluindo a viola de 12 cordas e o acordeon em suas interpretações.
Aprovado pelo próprio Dylan (com direito a elogio)
Essa é a melhor de todas. Zé Ramalho conta que, antes do lançamento, as versões foram enviadas à equipe de Bob Dylan para aprovação — e agradaram. Ainda segundo ele, as adaptações receberam elogios e foram aceitas “com louvor” pelo ídolo. O aval estava dado — levando em conta o conhecido temperamento difícil de Bob Dylan, isso não é pouca coisa. Logo, Zé Ramalho pode fazer história em sua carreira.