‘Megalomania’: Uana explica novo álbum faixa a faixa

16/10/2024

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Por: Armando Holanda

Fotos: João Arraes / Divulgação

16/10/2024

“A megalomania é quase um transtorno psíquico. Mas, aqui em Recife, a gente usa essa mania de grandeza para se reafirmar e buscar coisas maiores. É uma cidade pequena, em um estado pequeno, mas que sempre se posicionou como capital do Nordeste”, conta Uana Mahin, sobre a palavra que dá título ao novo álbum, lançado em setembro. 

Megalomania (2024) carrega mais que vaidade: é a vontade encapsulada de romper fronteiras — geográficas, culturais e artísticas —, algo que Uana e outros artistas da cidade têm perseguido.

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Essa ânsia por expansão de ritmos e fronteiras fica clara nas colaborações do álbum, como MU450, Rachel Reis, JOCA e Mago de Tarso. Os artistas entraram no projeto de forma orgânica, sem grandes planejamentos. “Olhei e pensei: caramba, foi um pouco megalomaníaco mesmo. Tem uma pessoa da baixada santista, uma de Niterói, uma da Bahia e um do Recife despontando no trap nacional.” Ela ri da sorte envolvida na construção do disco que, apesar de natural, resultou em uma diversidade que soou, no fim, estrategicamente pensada.

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O álbum também reflete uma mistura de gêneros e influências, marca registrada da cantora. Em “Só Mais Uma Noite”, por exemplo, o brega, tradicional em Recife, se mescla com house e disco, resultando em uma sonoridade nova, instigante e dançante. “Estou experimentando cada vez mais. O brega é um fio condutor, mas quero ir além. Estou me vendo cada vez mais na música eletrônica”, diz.

João Araes/Divulgação

Em meio a tantas explorações, Uana mantém suas raízes firmes no Recife, como em “Eu Tenho Molho”, um tributo à “sagacidade recifense”. “A gente quis trazer essa coisa do tempero do Recife, que está no brega, no maracatu. É o nosso drip, o nosso molho”, explica.

Com uma trajetória que combina inovação e respeito pelas tradições de sua cidade, Uana segue rompendo barreiras, guiada por uma megalomania que — no melhor sentido da palavra — não se contenta em ficar limitada às fronteiras de Pernambuco. “A gente quer chegar, ocupar. E eu vou fazer isso do meu jeito”.

Confira o faixa a faixa de Megalomania:

Chama (Interlúdio): Esse interlúdio é um chamamento do disco. Tem a harmonia e a melodia da música seguinte, “Fotografia”, mas com outra instrumentação e atmosfera. É, de fato, uma abertura de caminhos, quente e convidativa. Não por acaso tem esse nome, “chama”. 

Fotografia”: Essa faixa traz a tônica da primeira parte do disco: é apaixonada, visceral, sensual e, por vezes, misteriosa. “Fotografia” fala sobre um amor que vai se descobrindo aos poucos, sobre um desejo que vai crescendo, até não poder mais ser evitado. É um brega romântico com perfume das canções antigas, mas que também passeia pelo bregafunk.

Pelo Avesso”: Essa é uma das minhas preferidas do disco. Fala sobre um romance que deixa a personagem vulnerável, revirada, completamente mexida. Narra um encontro romântico e também a maneira exagerada e intensa como a personagem sente as coisas. É um bregafunk lento com elementos da música pop dos anos 2000. Uma mistura inusitada, mas que deu muito certo.

Esquina”: Narra uma paquera demorada, um chamego, cheio de sinais e momentos que vão adicionando mais desejo à relação. Traz na produção a junção da bregadeira/arrocha baiano com o breguinha daqui de Pernambuco. É uma celebração das músicas baiana e pernambucana, com esse feat incrível com Rachel Reis.

Pena que Acabou”: É um afrobeat bem melódico que fala sobre o início do fim de uma relação. Quando o desejo ainda existe, mas precisa ser reconfigurado. É dançante, mas também densa e cheia de nuances, em tom um pouco confessional.

À Primeira Vista”: Esse feat com Joca fala de uma paixão à primeira vista, um encontro efêmero entre duas pessoas de cidades diferentes, mas que precisam, por algum motivo, se afastar. É um afrobeats leve, dançante, para roer e curtir. 

Dust”: Esse interlúdio prepara o ouvinte para o que vem no segundo momento do disco: quando a personagem encontra-se consigo mesma depois de tantas relações amorosas. Tem um trecho de Still I Rise de Maya Angelou, com a voz da própria autora. Um poema que fala sobre resiliência, sobre ser mal vista pela sensualidade, pela ousadia, pelo protagonismo. Algo que também está presente na próxima faixa, que dá título ao disco. A melodia que embala o poema é uma vocalize presente na faixa Megalomania, cantada em outro tom e com outra atmosfera.

Megalomania”: A faixa título do disco é um trap dançante, que expõe questões mais internada e profundas da personagem, sobre seu desejo de grandeza e vontade de crescer e ir além. Fala de um processo interno de transformação da personagem que se desvincula da necessidade de um amor romântico, olha pra si e afirma “não sou a mesma, sou o meu instinto animal”. 

Gulosa”: Esse feat com o produtor Mu540 é um encontro entre o bregafunk e o funk paulista. Os elementos musicais se misturam e a letra é provocativa — fala sobre um encontro sexual e despretensioso com alguém que insiste em rever a personagem. 

Eu Tenho O Molho”: Parceria com o trapper Mago de Tarso, também de Pernambuco, que traz na musicalidade muitas referências à música pernambucana, seja o xote ou o manguebeat. Essa mistura com o pop e o trap resultou numa faixa que fala sobre ser de Recife e ter esse molho único que a gente tem.  

Só Mais Uma Noite”: Essa talvez seja a faixa mais experimental do disco, mas que traz uma mistura muito acertada: a bregadeira e o tecno. Fala sobre a despedida de um amor que sempre volta, mas dessa vez, a personagem promete ser a última noite. Começa lenta e melódica e cresce no refrão.

Kriptonita”: Fala sobre arder na pista, curtir a noite, se divertir sem compromisso e ter uma presença tão marcante a ponto de deixar alguém fraquinho e vulnerável. É um house gostoso, dançante e com o clima da noite recifense. 

De Cima”: É um interlúdio que fecha o disco e tem a voz de uma amiga, que conversa com a personagem e pergunta: “que noite foi essa?”, deixando no ar o que aconteceu de fato.

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16/10/2024

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Armando Holanda