_por Cris Lisbôa
Há muito tempo atrás fui em uma exposição da Yoko Ono. Não lembro onde foi, mas lembro que era da Yoko. Tinha uns quadros em branco, pendurados e, ao lado dos quadros, pregos e martelos. Adoro martelos. Adoro pregos. Amo pendurar coisas. Ali não dava para prender nada. Só fazer formas com os pregos. Coisa que descobri também gostar. Se não estou mentindo, fiz um C. De pregos. Uma graça. Grande Yoko, pensei. E ai fui até o balcão com martelos (de novo) e bati em xícaras. E ri. Os pedaços voaram para todos os lados. Um cara deu um pulinho para o lado. Esta mulher é ótima, disse. Ainda bem que desmanchou os Beatles. Porque senão eles iam ficar cada vez mais chatos e não seriam mitos. Acredite. Esta é minha teoria, Yoko Ono consagrou a história dos Beatles. Eles devem desculpas a ela. Enfim, o assunto é outro. Aqui. Perto dos quadros com pregos e das mesas com xícaras tinha um labirinto. Um labirinto de verdade feito todo em acrílico transparente. Babaca, hein? Juro que eu disse. Mas entrei, claro, sou de família classe média pequena burguesa e nós, os classe média pequenos burgueses aprendemos a aproveitar as coisas sejam elas quais forem. A churrascaria serve sushi? A gente come uma picanha seguida de um sushi. Ué. O hotel tem aquelas bananas que são puxadas por jet-ski? Vamos andar de bananas. Desperdício é coisa de pobre. Pobre desperdiça tudo. Coloca reparo. Pobre não sabe o valor de nada. E adora ser atropelado. Mas ai o labirinto. Transparente. Entrei. Achando fácil. Dei de cabeça no plástico duro na primeira dobra. E com o ombro em outra parede. As paredes não apareciam. Mas me atacavam. E tive um acesso de riso e as pessoas do lado de fora começaram a olhar. E fiquei com vergonha e uma certa vontade de chorar porque eu simplesmente não sabia sair de dentro de uma coisa toda transparente. E entrei em mini pânico. E demorei quinze minutos para achar a saída. E compreendi que com aquele labirinto ela provava o que todo mundo acha que sabe: que o óbvio, o fácil, o que parece simples e inofensivo é sempre a nossa pior escolha. Filha da puta.
@crislis é editora-chefe da Revista Noize e de gênio uma cachaça, mas de alma um guaraná.