Em tempos de financiamentos coletivos bem-sucedidos, ficamos surpresos ao encontrar um artista que resolve se desfazer de seus pertences pra lançar um disco. Pois ele atende por Juvenil Silva, maior representante da Cena Beto pernambucana, e o álbum não poderia ter outro nome se não “Desapego”.
E o que ele vendeu foi a vasta coleção de LPs. Alguns, porém, ficaram fora das negociações. São discos que o músico não teve coragem de viver sem, e aqui ele mostra o top 5 do que restou.
“Bringing It All Back Home”, de Bob Dylan
“É o disco do ‘Desapego’ do Dylan, da transição: um lado elétrico, o outro acústico. Nele, tem a primeira música que ouvi (num dia chuvoso, ainda lembro), ‘Mr. Tambourine Man’. Assim como ela, existem outros clássicos: no lado elétrico, destaco a instigada ‘Subterranean Homesick Blues’. Este disco, eu consegui através de uma troca (nada justa) com meu amigo Graxa, por um disco que aparecia sempre nos sebos, o ‘Ringo’, de 1973.”
“Terra”, de Sá, Rodrix e Guarabyra
“Esse disco é de 1973, meu ano preferido na música brasileira. Ele é o top do rock rural e transita em várias atmosferas: tem rock cinquentão, baladas, blues, country… Uma gama de tudo que eu curto com clima de on the road tupiniquim, uma realidade mais imaginável e mais próxima pra mim. Este, eu adquiri por uns 3 reais de um amigo que disse não ter gostado (?). É difícil de encontrar, nunca vi outro pra vender. Não tem como me desfazer de um disco tão foda e raro.”
“Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”, de Sérgio Sampaio
“Outro do ano fértil de 1973. Este, nem costumava guardar perto dos outros discos. O conheci há muito tempo, através do toque de Raul Seixas em alguma entrevista que li. Pra mim, é sem dúvida o maior letrista que já passou (infelizmente despercebido) pelo Brasil. Troquei no primeiro LP do Caetano com um amigo que havia me vendido o mesmo de Caetano por 5 pilas. Deus é grande!”
“Hunky Dory”, de David Bowie
“O disco mais coracional da fase fera do Bowie me traz lembranças jovens. Lembro de ouvir sem parar uma fita K7 dele, num dia aterrorizante, que foi quando fui me apresentar no quartel, com meu walkman munido dessa fita e cheio de bolinhas nas ideias… Apesar daquelas bolinhas sempre me fazerem esquecer o que acontecia, desse momento eu lembro bem. Esse disco é um tipo de companheiro, atravessou boa parte de minha vida, me emocionando e estabilizando meus sentimentos mais dramáticos. E vai continuar acompanhando.”
“Blood on the Tracks”, de Bob Dylan
“E eis que eu volto ao Bob… A relação que eu tenho com este é bem parecida com a do ‘Hunky Dory’ . Comprei num sebo faz muito tempo e, até hoje, é o disco que eu mais escuto do Dylan. Talvez, seja meu preferido, mas são tantos que não ouso dizer um. Enfim, assim como esses 5 discos que comento e indico aqui, existem outros em minha coleção que são como parte da família pra mim, ou melhor, como amigos de verdade.”