Playlist | 15 canções de Jorge

23/04/2019

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Leonardo Baldessarelli

Por: Leonardo Baldessarelli

Fotos: Fábio Caffé/Reprodução

23/04/2019

Uma das coisas inevitáveis da vida é a dor. Quando ela chega, sempre avassaladora, muitos encontram na fé religiosa seu principal alento – e, no Brasil, poucas entidades da religião têm o alcance de São Jorge

Conta a história que Jorge, o Santo Guerreiro, nasceu na Capadócia (na atual Turquia), no século III D.C., e tem sua história marcada pela luta em prol do cristianismo. Soldado estimado por Roma, foi descoberto cristão e torturado por um imperador pagão, mas morreu sem abandonar sua crença. Sua história de combate vai além da vida, por ser uma figura que a Igreja Católica tentou renegar e apagar de diversas formas. A instituição, porém, nunca conseguiu derrotar seu apelo, e o santo foi reconhecido “de máxima importância” por João Paulo II, em 2000.

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No Brasil, a maior parte das pesquisas de popularidade dos santos exclui Jorge por causa do seu sincretismo com a umbanda e o candomblé. Mas sua presença na cultura, sendo um santo celebrado por escolas de samba, artistas e até clubes de futebol, é prova do seu alcance. Uma pesquisa pelo termo exato “São Jorge” no site Vagalume, por exemplo, rende 6.000 resultados entre títulos de músicas, notícias e citações em letras.


Para muitos, a música popular brasileira acaba sendo uma porta de entrada para o universo de Jorge –  incluindo Rubel, que disse se sentir “completamente arrepiado” ao ouvir músicas com alusões ao santo. Por isso, separamos 15 faixas da história da música nacional que introduzem, celebram e devotam o Santo Guerreiro.

Abaixo, leia, ouça e se aproxime da fé, em uma lista publicada originalmente na revista NOIZE #79, que acompanhou o kit com o vinil verde translúcido do álbum Casas (2018), de Rubel.

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J. B. De Carvalho – “São Jorge Guerreiro”

Uma das primeiras músicas abertamente sobre o santo a serem lançadas no país, em um compacto de 1942, “São Jorge Guerreiro” mostra como a relação entre Jorge e nossa música já parte de um ponto em que o sincretismo estava estabelecido no pensamento popular. J. B. de Carvalho era conhecido como “o batuqueiro famoso”, cantor vindo do mundo da umbanda e macumba, essa canção é praticamente um ponto para São Jorge e Ogum.


Jorge Ben Jor – “Jorge da Capadócia”

Talvez a canção mais icônica sobre o santo, regravada por Caetano Veloso, Fernanda Abreu e Racionais MCs, “Jorge da Capadócia” é uma das obras-primas de Jorge Ben Jor. Uma mistura de oração, samba e o estilo único do músico, que hoje alguns chamam de “psicodelia”. É uma celebração de Jorge como guerreiro e do poder do santo em nos dar perseverança.


Zeca Pagodinho – “Pra São Jorge”

Mais uma que é quase uma oração, traz Zeca Pagodinho em seu estilo mais clássico – o partido-alto – e aborda o viés de proteção presente na fé ao santo, além de trazer o sincretismo com Ogum. Também é uma das músicas para o santo que mais ganhou versões, entrando num DVD do pagodeiro Péricles, por exemplo.


Caetano Veloso – “Lua de São Jorge”

Abertura do disco Cinema Transcendental (1979), “Lua de São Jorge” é um dos pontos da carreira de Caê em que a religião mais se destaca – e traz mais uma vez a presença do sincretismo com a umbanda. A relação da lua com o santo vem de Ogum – da noção de que a energia do Orixá fica mais forte em noites de lua cheia – e a canção de Caetano é uma grande celebração a isso, além de citar a noção popular de que as crateras da lua formariam a imagem do santo. 


Hermeto Pascoal – “São Jorge”

Apesar de não ser direta e abertamente sobre o santo, é uma das mais lindas e vanguardistas canções referentes a Jorge. Entre simulações de cavalos bufando e o instrumental ao redor das palavras ditas pelo pai de Hermeto, que fala sobre o animal do santo e sobre coisas “invendáveis”, o artista cria referências semióticas geniais à entidade. Vale ouvir mais de uma vez.


Maria Bethânia – “Medalha de São Jorge”

Canção de profunda reverência, escrita por Moacyr Luz e Aldir Blanc, ganhou força e popularidade na voz de Maria Bethânia, com uma interpretação típica da cantora: belíssima e de muita emoção. Traz Jorge como símbolo de proteção, força e vitória contra o mal, mas também de afeto e devoção.


Facção Central – “Espada no Dragão”

Saída do álbum O Espetáculo do Circo dos Horrores (2006), fala mais sobre a fé como um todo do que sobre São Jorge – com versos que exaltam a religião como reabilitação e única esperança. Mas seu título e seu principal verso são uma grande referência ao santo – ao viés de luta, resistência e superação inerente a Jorge. “Sigo o exemplo de São Jorge, espada no dragão.”


Zeca Pagodinho – “Ogum” (part. Jorge Ben Jor)

Falando em canções belas sobre São Jorge, é impossível deixar “Ogum” de fora. O samba de Zeca Pagodinho é um grande ponto e talvez a canção que mais exalta o sincretismo – começando sobre Ogum e terminando com uma oração de Jorge Ben a São Jorge.


Ronnie Von – “Cavaleiro de Aruanda”

Uma das razões da popularidade de São Jorge no país é o fato de que o santo era uma das divindades mais celebradas de Portugal na época da colonização. Assim, muitos escravos tiveram de aderir ao sincretismo em Jorge para manter sua fé. Ao contrário do resto do país, que uniu São Jorge a Ogum, em Salvador o sincretismo aconteceu com Oxóssi. Com isso em mente, nada mais justo que indicar uma das maiores canções populares sobre o cavaleiro de Aruanda já feitas, cantada por ninguém menos que Ronnie Von.


Clara Nunes – “Guerreiro de Oxalá”

Direto do fim da década de 60, Clara Nunes traz mais uma vez o sincretismo, cantando sobre São Jorge e Ogum como um só, como “guerreiro de oxalá”. Além da voz da cantora, sempre espetacular, a canção ganha a produção orquestral típica das músicas brasileiras dessa época e um clima épico, misturando a citação de valores do santo a trechos narrativos sobre sua história.


Jorge Ben Jor – “Domingo 23”

Jorge Ben Jor é o devoto mais aberto e fervoroso de São Jorge na música brasileira, com inúmeras canções sobre o santo. Além da já citada “Jorge da Capadócia”, “Domingo 23” tem grande destaque, descrevendo muitas características da entidade e da sua história, e fazendo referência ao dia de hoje, 23 de abril, data em que se comemora o Dia de São Jorge.


Alcione – “São Jorge”

Samba de Claudinho Azeredo e Paulo César Pinheiro, a “São Jorge” conhecida na voz de Alcione é uma exaltação ao poder, ao guerrear e à presença do santo, destacando Jorge como a grande esperança de uma nação de miséria e tristeza. O ritmo e a performance fortes da cantora também impressionam.


Seu Jorge – “Alma de Guerreiro”

Uma das canções mais atuais da lista, foi a música-tema da telenovela Salve Jorge (2012), outra obra em referência ao santo, e teve repercussão junto ao sucesso do folhetim. É um samba rock na voz de Seu Jorge e com referências a vários momentos da lenda de Jorge, incluindo o sincretismo em citações à lua.


Juçara Marçal e Kiko Dinucci – “São Jorge”

Um ponto em forma de samba na sua versão original, lançada em 2008 no disco Padê, “São Jorge” foi retrabalhada por Juçara e Kiko já no grupo Metá Metá em 2012, se transformando num samba torto e numa das grandes homenagens ao santo lançadas no século XXI. Sem ter seu nome citado, Jorge é devotado por sua força e perseverança, com destaque para o refrão: “Guerreio é no lombo do meu cavalo.”


Jorge Ben Jor – “Cavaleiro do Cavalo Imaculado”

Fechamos com mais uma obra do grande Jorge Ben Jor e também uma das canções mais únicas de toda a lista. “Cavaleiro do Cavalo Imaculado” não traz citação direta a São Jorge, mas mostra a profundidade que o sincretismo de Jorge e Ogum alcançou no Brasil e traz urgência e tensão sonoras que simbolizam magistralmente o viés “guerreiro” de Jorge. O santo é descrito, ao mesmo tempo, como “leão do Império” e “o príncipe de toda a África”, em referência às místicas cristã e africana ao mesmo tempo. 


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23/04/2019

Redator de social media, jornalista, músico, emo, jogador de bocha, astrólogo e benzedeiro nas horas vagas. Um colono que se encontrou na cidade grande e agora pensa que sabe escrever sobre qualquer coisa.
Leonardo Baldessarelli

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