Pop, tropical e fashionista: conheça Totô de Babalong, revelação da música baiana 

26/01/2024

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Por: Isabela Yu

Fotos: Juliana Rocha/ Divulgação

26/01/2024

“A gente precisa ter ousadia na vida”, diz Heitor Alencar Pinto, nome de batismo de Totô de Babalong. Aos 27 anos, o cantor, compositor e estilista baiano apresenta o segundo disco, Pescoço Salgado. Disponível nas plataformas de streaming desde 10 de janeiro, o álbum possui oito faixas e colaborações com Gaby Amarantos e Rachel Reis. O show de lançamento acontece nesta sexta-feira, 26/1, na Casa Natura Musical, em São Paulo.

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Antes de assumir a persona artística, ele trabalhou como estilista, criando peças para Anitta, Pabllo Vittar, Ludmilla e Luísa Sonza. Ainda que tivesse intimidade com o mundo da música, Totô começou a cantar durante a pandemia. “A música é recente, antigamente, eu era só ousado”, afirma. 

O novo trabalho reafirma a sua identidade romântica, tropical e latina, ao se debruçar em sonoridades como o pagode, a bachata e o brega. Na produção musical, repete a parceria da estreia, Contém1Drama (2021), com o produtor João Mansur, da Akhi Huna. “Blayblayde”, faixa que abre o disco, foi produzida por Tomás Tróia, já “Morar Com Você”, foi assinada por Rafael Dias (RDD), do Àttooxxá

“A gente debulhou as sonoridades que poderíamos usar no álbum. Eu não produzo, sou compositor. Chego no estúdio com a música da minha cabeça e a gente trabalha junto. Já foi do arrocha para bachata, do forró para o pagode, é uma loucura”, divide sobre o processo de criação. 

A sonoridade de Pescoço Salgado bebe dessas referências, mas também cria pontes com a música pop dos anos 2000, tanto nacionais quanto internacionais. No hall de ídolos do artista, ele cita Raquel dos Teclados, Calcinha Preta, Ara Ketu, Banda Eva, Fagner e Reginaldo Rossi. Nesse liquidificador musical entram também novidades da cena baiana, como Melly, Hiran e Rachel Reis, divas gringas à la Nicki Minaj, Megan Thee Stallion e Lana Del Rey, e música chinesa contemporânea, como o rapper Leo Wang.  

Detalhe: antes de ser estilista e cantor, Totô morou durante três anos em Xangai, onde estudou mandarim, foi professor de inglês e espanhol, e dublê de filme de ação. “Nunca gostei de seguir o que todo mundo está fazendo”, conta. A conexão entre China e Bahia está no nome do projeto, pois “Babalong” representa o encontro entre duas culturas situadas em lados opostos do globo. 

“Tem muito rolê legal por lá. Fui em uma rave na muralha da China, não podia fotografar e levar bebida, mas fiz muita foto e coloquei vodka na embalagem de shampoo. Meu Deus, ficou com muito gosto de shampoo! A gente precisa sair da bolha”, divide. Com a maturidade adquirida no exterior, ele retornou ao Brasil para tocar a marca de roupas com a irmã, Débora, e tentar a sorte com o projeto musical. 

Mais do que ousadia, Totô tem talento em captar os detalhes que poderiam passar despercebidos. Basta reparar nas letras que falam sobre romances, bebedeiras e desilusões amorosas, ele usa o humor e a leveza para falar desses assuntos. Sua antena está ligada no turbilhão cultural da internet, porém embasado em tradições nacionais. 

“Apresentei ‘Jogo de Louça’ para Gaby Amarantos, que catou a referência do brega e topou na hora. Ela disse: ‘cara, acho muito lindo o resgate dessa sonoridade que você está fazendo'”, aponta o músico. A capa do single foi fotografada pelo celular de forma espontânea, onde os pés de galinha trazem unhas pintadas de vermelho e um anel de noivado. 

A bagagem como estilista colabora para a concepção das capas, videoclipes e fotografias. “É despretensioso, mas tem um conceitinho por trás, acho que o legal é impactar, é conseguir chocar”, explica. No segundo álbum, colocou o rosto e o corpo para jogo, porém mantém a veia fashionista. Tudo amarrado no seu universo pop, sensual e brasileiríssimo. 

Você criou mais de 100 músicas para o disco Pescoço Salgado. Como foi o processo de seleção do que entraria para o álbum? 

Ele surge na esteira do primeiro disco, porque eu sabia que queria algo mais verão, mais focado no regional. Aos poucos, fui traçando a persona do Totô de Babalong. O Contém1Drama (2022) me mostrou as sonoridades que eu queria seguir. Entendi que gostava de cantar de amor, só que de uma maneira mais safada. Sou romântico e tropical. Fui colocando no papel para entender o que eu queria, até perceber que existia uma latinidade muito forte. Então tenho essa persona latina, romântica e tropical. Com as pesquisas, fui debulhando as sonoridades de gêneros latinos, como a bachata, brega e o pagode. Escrevi muita música porque estava em um momento ruim das ideias, foi difícil porque queria produzir um álbum solar. O próximo vai vir só pedrada. 

Geralmente, você compõe pensando no conceito do disco?  

Sou o louco do álbum. Gosto muito de criar o conceito, estética, todas as partes. O volume três está pronto na minha cabeça. Gosto de compor com um objetivo. Tenho álbuns de reggae, rap, arrocha, as ideias não param. Como compositor, a melodia vem antes das letras e em momentos inusitados. Gravo no celular e depois encaixo os versos. Por exemplo, “Toca Metallica Pra Mim”: tinha melodia, mas não tinha letra. Fui pra Argentina e fiquei com um fã. Lembrei da Lady Gaga no início da carreira, da ideia da groupie que se apaixona pelo rockstar, fiquei pirando nisso. Ele me mostrou a música “El bahiano”, da Soledad, que é uma artista folclórica argentina. Nela, uma menina chamada Lorena se apaixona por um músico baiano, mas não podia ficar com ele. Me inspirei nessa música para criar a minha – foi coisa de 30 minutos. 

Você não aparece na capa do primeiro disco, enquanto no novo, há sua foto em uma proposta mais minimalista. 

A brincadeira do engolidor de espadas é mostrar o perigo, a vulnerabilidade, a confiança e a sensualidade. Eu quis me projetar dessa forma. Queria passar o conceito em uma imagem: de ser romântico, tropical, safado, tudo de uma vez. Quando o diretor de arte, Pedro Flutt, sugeriu a ideia, falei na hora: “é isso”. Não tinha parado para pensar nisso, mas queria mostrar o meu rosto no novo disco, fazer algo bem editorial. No passado, não mostrava meu rosto, era o meu pé, uma camisinha furada, outras ideias. 

Como funciona o processo visual do disco? 

No álbum, gosto de trabalhar com alguém para somar as ideias. Tanto como artista, quanto empresário, preciso entender um pouco de tudo. Sou apaixonado por direção de arte porque sou estilista. Muitas referências minhas vem desse universo, porque gosto de criar algo chocante e fashion ao mesmo tempo. Nesse disco, trabalhei com o Pedro Flutt e Juliana Rocha. Via o trabalho de cada um e o que eles conseguiriam entregar, eles formam uma dupla muito boa. Mas em outros trabalhos, faço sozinho com a câmera do celular. Estava comendo guaiamum, que é um caranguejo azul, pensei em botar um cigarro na casca e tirar a foto. A capa de “Jogo de Louça” foi assim, também. Vi um cara vendendo pé de galinha e comprei. É despretensioso, mas tem conceito. “Às Avessas Por Você” foi inspirada no brega, quando os cantores recebem calcinhas no palco, então na foto, estou literalmente bebendo a referência. Tem o conceitinho, mas o legal é impactar, é o choque. 

As referências permeiam o seu trabalho. Desde o “Toca Metallica Pra Mim” ou em “Desse Jeito”, onde você menciona o Funilaria, espaço de samba em São Paulo. São coisas que existem apenas na música ou fazem parte da sua vida? 

Eu sou uma pessoa engraçada, gosto de dar risada, uso tudo isso no meu dia a dia. Você senta num bar comigo e pega uma pinga, vai ver as referências saindo. Se eu falo algo engraçado, anoto no bloco de notas e coloco na música. Viver no interior da Bahia também me traz muita referência. O povo aqui fala cada coisa! O “comendo de bandinha”, de “Hola Chica”, surgiu assim. Estava dirigindo e um rapaz que trabalha comigo falou para comer de bandinha para atravessar uma poça na estrada de terra. Anotei isso e coloquei na música, não teve jeito. 

Antes de cantar, você trabalhou como estilista na Bababalong, criando roupas para divas pop. Quando aconteceu a transição da moda para música? 

Com o tempo, fui me entendendo como compositor. Desde pequeno, fazia música de aniversário para os amigos, uns raps bobos. Na adolescência, em festas de música eletrônica, a letra vinha e eu cantava em cima do beat. Essas nuances que a gente não percebe, mas enxergo isso hoje em dia, então a música veio antes da moda. Morei durante três anos na China, era professor, ,as via que não estava crescendo na vida. Liguei para a Débora, minha irmã, e propus criar uma marca de roupas. Voltei ao Brasil por conta da marca, mas com o tempo, comecei a me envolver com música e escrevi “Caipirinha de Milão”.

Como você foi parar na China? 

Morei em Xangai. Fui estudar mandarim, mas com o tempo, comecei a dar aulas de inglês e espanhol. Em dado momento, também fui dublê de ação. Sou apaixonado por lá, só voltei porque tive que voltar, e só não retorno, porque tenho que fazer música. 

Quando surgiu o seu interesse por mandarim? 

Sempre gostei do diferente. Dá pra ver nas minhas capas, nunca gostei de seguir o que todo mundo está fazendo. Nunca quis estudar inglês, ou ir para os Estados Unidos ou para a Europa. Não, acho que o mundo é muito grande e a gente tem que ter várias referências. Comecei a estudar mandarim e ganhei uma bolsa do governo chinês para ir estudar lá. É uma cultura muito foda, sou louco pela China. O Babalong é chinês: “ba” de Brasil, com “ba” de Bahia” e o “long” de dragão. 

Por que você decidiu retornar ao Brasil? 

Comecei a marca e ela foi crescendo. A gente começou a vestir artistas: Anitta, Ludmilla, Pabllo Vittar, Luísa Sonza e, com o tempo, comecei a fazer música. Escrevi “Caipirinha de Milão” com uma amiga e ela foi crescendo.  Outra amiga me apresentou para o RDD e deu certo. A música é recente, comecei a cantar há pouco tempo. Antigamente, eu era só ousado. É só o que a gente precisa: ousadia. A procura foi aumentando até eu lançar o primeiro álbum. 

Ao focar na música, você decidiu abandonar a moda? 

A marca, sim. Sou apaixonado por moda. Preciso me estabilizar profissionalmente, ter uma renda fixa, para continuar com a marca, mas nunca vou deixá-la de lado. A moda é muito presente na minha vida. 

Quais são as suas piras fashion no momento? 

Gosto muito do David Koma, que inclusive é o nome de uma música do meu primeiro álbum. Quando eu trabalhava com a marca, a Mugler está muito em alta, mas hoje, já acho repetitivo. Sempre gostei de revistas, e vejo a moda como um modo de expressão. O meu primeiro contato firme foi através de RuPaul. No Drag Race, você vê as drags tendo ideias muito legais, criando roupas baseadas na persona delas. Isso me ajudou a entender a minha identidade porque via as drags que mais gostava, sempre fui atrás das que são mais punk, como a Alaska ou a Katya. Gosto da Sharon Needles, Violet Chachki e Miss Fame, a moda é muito presente naquele negócio, tanto que muitas delas desfilam também. Com isso, consegui visualizar o que eu mais gostava em questão identidade para aplicar na Babalong Modas e no Totô de Babalong.  

Moda e música estão muito conectadas. Você sempre enxergou dessa forma?

A moda acontece fora das passarelas, ela está nas boates, nas drags e na música. Afinal, música e estilo são coisas muito próximas. Para mim, a Duda Beat deu um chutão na porta ao trazer uma identidade visual com moda, misturada ao ritmo brasileiro. Sinto que ela deu um start nisso. Tudo é muito coeso. Marina Sena também deu o nome. Elas fazem uma parada muito chique, com identidade visual editorial e música boa. 

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