Por dentro dos festivais: saiba como foi a segunda edição do Doce Maravilha

31/05/2024

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Lucas Vieira

Por: Lucas Vieira

Fotos: Divulgação/ Bel Gandolfo

31/05/2024

Nos dias 24 e 25 de maio, último fim de semana, ocorreu a segunda edição do festival Doce Maravilha. Realizado no Jóquei Clube do Rio de Janeiro, o evento apresentou programação com curadoria de Nelson Motta, valorizando encontros entre artistas, homenagens e shows de celebração.

Em relação à estrutura, o festival acertou trazendo muitas opções de alimentação e maior número de áreas cobertas, incluindo o Palco Elo. Embora tenha vindo de forma bem mais branda do que na edição anterior, a chuva também marcou presença nos dois dias de Doce Maravilha.

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No local dos shows principais não havia cobertura, apesar de ter piso. Contudo, era necessário passar por um longo trecho de terra para assistir às apresentações, sendo inevitável o contato com a lama após os momentos de chuva mais intensa.

Os shows ocorreram com atrasos mínimos, com a troca de equipamentos sendo feita com agilidade. Algumas apresentações geraram dúvidas em relação ao que foi anunciado nas redes sociais do Doce Maravilha e o que foi apresentado durante o festival, com roteiros que divergiam do que foi divulgado pelo evento em suas publicações.

Veja a nossa lista com cinco shows marcantes da segunda edição do festival Doce Maravilha!

Donato Imperial: Orquestra Imperial, Donatinho e Marcos Valle

A Orquestra Imperial homenageou a música do cantor e pianista acreano com arranjos que honraram a beleza e o frescor tropical presentes em sua obra. Mais do que venerar o legado de João Donato, a apresentação celebrou sua essência, com os artistas fazendo seu gesto de comemoração jogando os braços para cima, e repetindo o grito “Água”, para encerrar os números de suas apresentações.

Com Donatinho, filho do artista, comandando o piano elétrico e o sintetizador, o show teve repertório marcado por composições de Donato eternizadas na voz de outros cantores, como “Gaiolas Abertas” (Martinho da Vila), “Flor de Maracujá” (Gal Costa), “Nasci Para Bailar” (Nara Leão), e outras mais conhecidas na voz de João, como “Lugar Comum”, “A Bruxa de Mentira” e “Ahiê”.

Marcos Valle participou de três músicas, cantando e assumindo o piano elétrico. Após cantar “Sambou… Sambou…” e “A Rã”, o artista apresentou “Tem Nada Não”, de seu LP Mudança de Tempo (1973). O pianista introduziu a canção contando a história de como a compôs, baseada em uma desilusão amorosa de Donato. O acontecimento gerou não só a faixa, como possibilitou ao compositor produzir o reverenciado disco de João lançado em 1973, Quem É Quem?. Encerrado com “Emoriô”, cantada e dançada pelo público, o show foi uma homenagem à altura do músico, e merece ser apresentado muito mais vezes.

Jorge Ben Jor apresenta: É Coisa Nossa!

Quando foi anunciado que Jorge Ben Jor estrearia um novo show no Doce Maravilha, batizado É Coisa Nossa!, muito se especulou sobre o repertório que o cantor apresentaria no festival. Entre os looks do sábado, nenhum se repetia mais que a camisa com a capa de A Tábua de Esmeralda, LP que completa 50 anos em 2024 e há muito os fãs pedem para que seja levado aos palcos. Havia no ar a esperança de ver o álbum na íntegra ao vivo, mas nada indicava que o momento havia chegado, afinal, não haveria sentido não divulgar uma apresentação tão desejada.

É Coisa Nossa! não trouxe surpresas, sendo apenas um novo nome para uma apresentação com o repertório costumeiro de Jorge Ben Jor, o que, apesar da quebra da expectativa criada em torno de um novo show, passou longe de decepcionar o público. Emendando faixas, o artista tocou um setlist repleto de clássicos, como “Jorge da Capadócia”, “Ive Brussel” e “Bebete Vãobora”, música em que fez um enérgico solo de guitarra cheio de efeitos. O cantor chegou a passar pelas faixas de A Tábua de Esmeralda, cantando as canções “Magnólia” e “Zumbi”.

Embora não tenha trazido nenhum tipo de novidade, naturalmente esperadas pela estreia de um novo show, É Coisa Nossa! foi uma apresentação com a alta qualidade já conhecida de Jorge Ben Jor, que foi ovacionado pelo público que cantou e dançou na chuva. Seja para quem estava assistindo pela primeira vez ou para quem é acostumado com o artista nos palcos, o cantor entregou uma bela performance.

Maria Bethânia convida Xande de Pilares

Encerrando a turnê Fevereiros, Maria Bethânia fez um show de roteiro grandioso, que incluiu canções mais recentes de seu repertório e resgatou clássicos de sua carreira. Em apresentação marcada também por homenagens, a artista pediu “aplausos para a voz imortal de Gal Costa” e cantou canções de Erasmo Carlos (“Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo”) e Rita Lee (“Baila Comigo”), que apareceram no telão em fotos com a cantora.

Também não faltaram reverências durante a apresentação da canção “Samba da Bênção”, em que a cantora pediu a entidades, artistas, aos fãs, a cidade do Rio de Janeiro e as escolas de samba que fazem parte de sua história que à abençoassem e avisou: “eu estou sempre só começando”.

Descalça e vestindo vermelho, em contraste com seus músicos, vestidos de branco, a artista fez show de execução técnica primorosa, mostrando jovialidade com sua voz sempre exuberante. Faixas como “Negue”, “As canções que você fez pra mim”, “Reconvexo” e “Coroa do Mar” passearam com coesão pelos mais de 50 anos de carreira da artista.

O tom político da apresentação foi acentuado por canções como “Yáyá Massemba”, “Mulheres do Brasil” e “Amor de Índio”, esta última bastante aplaudida pelo público na repetição dos versos “Sim, todo amor é sagrado”.

Com sua participação, Xande de Pilares levou o Doce Maravilha à nobreza de uma roda de samba. Juntos, os artistas cantaram sucessos de Bethânia como “Sonho Meu” e “Mel”, além de fazerem um dueto lindíssimo de “Gente”, composição presente no álbum mais recente do cantor, em que homenageia Caetano Veloso. Xande também se apresentou sozinho, entregando hits como “Deixa Acontecer” e “Brincadeira Tem Hora”, enquanto a cantora, sentada no fundo do palco, o aplaudia e sorria. Em declaração durante o show, ele disse: “Vocês não sabem a emoção que é ouvir uma artista em casa e hoje estar aqui cantando com ela”.

O número de encerramento contou com o retorno de Xande, cantando “Tá Escrito”, composição de sua autoria, em parceria com Carlinhos Madureira e Gilson Bernini, junto de Bethânia. Dessa forma, o show terminou com uma música que exalta a alegria, que, durante a apresentação, foi estampada tanto no rosto da plateia emocionada quanto dos músicos.

Mayra Andrade convida Rachel Reis

Mayra Andrade levou ao Palco Elo uma apresentação baseada em seu show reEncanto. Em palco adornado por plantas e sentada em uma poltrona, a artista se apresentou ao lado do violonista Jorge Almeida. Em algumas faixas, a cantora tocou percussões complementares, que foram acompanhadas pelas palmas ritmadas do público. Em sintonia, voz e violão dançaram juntos em repertório que passeou pelos discos Manga (2019), Lovely Difficult (2013) e Navega (2006).

A primeira parte do show foi marcada por canções mais calmas, com destaque para os vocalizes de Mayra e as transições entre melodia e harmonia do violão. Em sua participação, Rachel Reis revelou o nervosismo de se apresentar ao lado de uma cantora que é sua referência e, juntas, cantaram a música “Manga” e o medley que reuniu as canções “Tigresa”, de Caetano Veloso, e “Bulimundo”, do grupo de mesmo nome conhecido por popularizar o gênero Funaná no Cabo-Verde.

As músicas mais agitadas foram apresentadas na segunda metade do show, que foi encerrado com “Téra Lonji”. Contando com as músicas “A-mi N kre-u txeu”, “Afeto”, “Vapor di Imigrason”, a apresentação da cantora cabo-verdiana foi marcada pela beleza de seu clima intimista, com a artista sendo muito aplaudida pela plateia.

Os Paralamas do Sucesso em: 40 Anos de O Passo do Lui

Lançado em 1984, O Passo do Lui é o segundo LP da carreira d’Os Paralamas do Sucesso e reconhecido como um dos pontos altos da discografia da banda. Bem dividido entre hits e canções “Lado B”, o disco foi uma escolha certa para a apresentação do grupo no Doce Maravilha.

Nos arranjos, a banda não buscou reproduzir com fidelidade a sonoridade dos instrumentos ouvida no disco, fato que em nada afetou a performance e reafirmou a força das composições em roupagem mais orgânica. Embora a maioria das músicas tenha contado com o apoio de João Fera (teclados), Monteiro Jr (saxofone) e Bidu Cordeiro (trombone), as faixas “Mensagem de Amor” e “Fui Eu” foram tocadas apenas pelo trio, mostrando uma sintonia de mais de quatro décadas.

Para o telão, a banda preparou diversos clipes especiais. Em “Assaltaram A Gramática” homenagearam alguns dos grandes poetas brasileiros da década de 1980: Cazuza, Renato Russo, Chacal, Fausto Fawcett e a dupla Lulu Santos e Waly Salomão, autores da música. Diapositivos do trio e fotografias da sessão de fotos para a capa de O Passo do Lui, clicadas pelo lendário Maurício Valladares, parceiro de longa data da banda, também foram exibidos ao longo do show.

Além do repertório completo do disco, a banda utilizou o tempo restante da apresentação para presentear o público com alguns dos grandes sucessos de sua carreira, cantados em êxtase pela plateia, como “Alagados”, “Lanterna dos Afogados” e “Uma Brasileira”. Um show que, além da importância histórica de reinterpretar um álbum clássico, mostrou o profissionalismo e a qualidade imutável da banda nos palcos.

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31/05/2024

Lucas Vieira

Lucas Vieira