Pullovers lança novo álbum após hit no TikTok; confira

15/01/2025

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Por: Revista NOIZE

Fotos: Vitor Bossa/Divulgação

15/01/2025

A banda Pullovers está de volta. Após marcar uma geração do indie rock brasileiro, Luiz Venâncio (guitarrista e vocalista), Rodrigo Lorenzetti (tecladista), Habacuque Lima (guitarrista e produtor), Bruno Serroni (baixista e violoncelista), Angelo Lorenzetti (violonista) e Paulo Chapolin Rocha (baterista) retornam com o álbum Vida vale a pena? (2024), depois de 15 anos do fim da banda.


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O retorno pode ter sido (também) pelo hit inusitado no TikTok — a geração Z descobriu a faixa “Tudo que eu Sempre Sonhei”, que inspirou vídeos na plataforma. A faixa dá título ao primeiro e até então único álbum, de 2009.

Durante este tempo, Luiz se tornou professor de redação. O vídeo da música no YouTube tem direito até a alunos do músico comentando que ouviram a canção na plataforma e se identificaram com a letra.

A composição, de fato, é atemporal, reflete sobre os sonhos e desesperanças de uma juventude brasileira que, afinal de contas, tem seus pontos intergeracionais.

Mas, se em 2009 o Pullovers sonhava, em 2024 eles mantêm o pé no chão. Longe de falar sobre amadurecimento e outras obviedades, a banda paulista mostra, neste novo trabalho, uma visão diferente para a vida e os sonhos. A finitude e outros temas existenciais dão o tom da composição. Porém, a vida é celebrada, por assim dizer, em faixas como “Poeira de estrela”, “Não se mate II” (a primeira versão, oficial), e “Antideprê”.

No fim, a mensagem geral é positiva. Respondendo ao próprio questionamento do título deste novo álbum, nas palavras de Venâncio para a Noize, a vida vale a pena sim. “E muito”, ele diz.

Confira o Faixa a Faixa abaixo:

“Vida vale a pena”: A faixa de abertura é uma afirmação. Achamos que vale, e muito. Por isso, aqui a frase aparece sem o ponto de interrogação. Só que depende de você se perguntar de verdade, sem dourar a pílula, e entender que o tempo é curto pra você fazer valer a pena. Você percebeu que o ponteiro dos segundos no relógio não está contando mais um, mais um (segundo), mas sim MENOS UM, menos um? Então, é difícil de aceitar, apesar de ser tão óbvio. E é difícil de se fazer a pergunta de se a vida vale a pena MESMO sem cair no desespero. Muita gente não consegue. Pra muita gente, é tudo um vale de lágrimas, e de forma alguma culpamos ninguém que entenda a realidade desse jeito. Essa faixa, então, foi composta por mim e pelo Rodrigo Lorenzetti pra darmos com toda a humildade a nossa resposta, mesmo que provisória, pra essa pergunta. Com a faixa, a gente não quer “ensinar” nada, “provar” nada pra ninguém, mas só dar a nossa pequena contribuição poética pra pergunta mais importante do mundo.

“Mais do mesmo”: Essa canção eu – Luiz – compus sozinho, num momento terrível. Eu não dormia (passava mais de 72 horas sem dormir), quando pegava no sono, era por no máximo duas horas… Estava vivendo uma crise de ansiedade horrorosa e confesso que tava pessimista quanto à minha capacidade de mudar as coisas. Ao mesmo tempo, me culpava pra caramba, me achava covarde, um bebê chorão. Resolvi escrever a canção como uma confissão mesmo: naquele momento, era daquele jeito que eu sentia, como “o mesmo rato de anos atrás, praguejando, ingrato, culpando meus pais, o mesmo chato cantando os meus ais” etc. etc. etc. É bom que seja a segunda faixa do disco, inclusive como um antídoto: impede que vire um disco de auto-ajuda! (risos) E mostra o quanto a raiva que eu tinha (de mim mesmo), que muitas vezes continuo sentindo (de mim mesmo) não vai embora, como se eu tivesse de repente mudado, evoluído e atingido, sei lá, o “nirvana” da paz interior. De forma nenhuma. Sou outro mas ainda sou o mesmo!

“Não se mate”: É um apelo. Já vivi situações limite. De um jeito ou de outro, já botei o berro na boca e tô aqui pra contar a história. Então, essa canção é também, de um certo jeito, a faixa-limite do disco. Também não diz nada fofo, não doura a pílula, não é auto-ajuda. Só faz o apelo pra que quem ouça possa – esperamos – atender sobrevivendo, porque na verdade todo mundo é um pouco sobrevivente. A letra é minha e a música é do Rodrigo Lorenzetti.

“Fim”: Mais uma parceria com o Rodrigo. Essa, como “Mais do mesmo”, foi escrita na fase de crise aguda. Você já teve algum ataque de pânico ou algum momento do tipo, daqueles brabos mesmo, que dão a certeza de que dali você não passa? Então, é isso. Pelo menos o eu lírico é um neurótico cinéfilo, cita o filme “O Sétimo Selo” do Bergman quando a morte joga xadrez com o cavaleiro!(risos) Gosto muito dessa canção, especialmente do arranjo. Pra mim, é uma lembrança de uma banda pela qual eu sou apaixonado, os Delgados (da Escócia).

“Poeira de estrela”: Momento espiritual-ateu do disco. É um paradoxo mesmo: espiritual e ateu ao mesmo tempo, porque a música (do Rodrigo), na minha opinião, tem um lirismo quase religioso, enquanto a letra fica reafirmando a materialidade, dizendo que a gente é feito de átomos, moléculas bla bla bla. Mas o curioso é que a combinação de música e letra, em vez de realizar uma contradição, forma uma terceira coisa, que tem a ver com a noção de que a matéria que tá em mim agora já fazia parte do universo antes e vai continuar existindo depois que eu não existir mais. Uau, isso sou meio hippie (risos).

“Xi”: A música de amor do disco. Pro meu filho. Rodrigo me mandou a música durante a pandemia e eu letrei. É sobre como é bonita a nossa vida (a minha, a dele, a da família). A casa, o passeio, o sol. Tá vendo como vale a pena?

“Pai”: Para o meu pai. Essa tem música e letra minhas. Meu pai, como muitos homens, infelizmente deu uma sumida no mundo uma hora. Aquela do “foi comprar cigarro e não voltou”, sabe? O que fica é um buraco, não tem muito jeito. É sobre isso.

“Antideprê”: É a faixa mais bem-humorada do disco. Também parceria minha com o Rodrigo. Vão achar que é sobre a promessa de felicidade vendida pela indústria farmacêutica, sobre as soluções mágicas numa pílula, blablabla. E é. Antidepressivo hoje é tipo o “emplastro Brás Cubas”, todo mundo toma. Só que R$ 9,90 acho que é um preço baixo demais, um antidepressivo nesse preço iria quebrar o mercado.

“Não sei”: Então… O mundo hoje às vezes parece um desfile insuportável de gente caga-regra. Todo mundo tem certeza de tudo. Diga isso, leia aquilo, tome isso, milite a favor da causa X, milite contra a causa Y. E eu nisso? Primeiro o eu-lírico diz “prefiro não”. Não vou fazer o que me mandam ou me pedem sedutoramente pra fazer. Depois, diz NÃO SEI. Realmente, não sei. Me reservo o direito de não saber, pode ser? Na manada de caga-regragem que é o mundo de hoje, dizer “não sei” é libertador. É mais uma parceria minha com o Rodrigo. 

“Não se mate II”: Esta, na real, é a versão original. Rodrigo fez a música, eu pus a letra… Mas aí, depois achei que poderia ficar bem mais pop e com uma mensagem mais direta, então, fiz uma versão mais assertiva (“Não se mate”). Os outros Pullovers também acharam que valeria a pena ter uma versão mais direta, mais “urgente”… Mas achamos que seria um desperdício jogar fora o lirismo da versão original da canção, que passamos a chamar de “Não se mate II”. O arranjo desta foi totalmente inspirado em Angelo Badalamenti, compositor de trilhas pro David Lynch.

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15/01/2025

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