Coletâneas em Vinil | Papagaio, a 1ª discoteca do Brasil

06/04/2022

Powered by WP Bannerize

Erick Bonder

Por: Erick Bonder

Fotos: Reprodução

06/04/2022

Lá pela década de 1970, houve uma verdadeira revolução na vida noturna ao redor do mundo. Os crooners e suas bandas tiraram uma folga forçada, substituídos pelos DJs e seus LPs e pelos super potentes novos sistemas de som instalados nos ambientes. Luzes para todos os lados e, no centro das atenções, a pista de dança.

Era o início de uma era. Esse formato de casa noturna surgiu na Europa, mas logo se popularizou nos Estados Unidos e, em seguida, chegou ao Brasil. Eram os disco clubs, discotecas, boates, night clubs (chame como preferir), que incorporaram as novas tecnologias da época às festas da noite. A popularização do vinil e dos equipamentos de amplificação sonora teve um papel central nessa história.

Nesses clubs, surgiu e se desenvolveu todo um novo movimento cultural, que incluía um pacote completo com música, dança, roupas e comportamento. A disco music e a cultura disco de forma geral foram desenhadas nos EUA, com protagonismo indiscutivelmente negro, apesar de terem se tornado uma febre generalizada, um fenômeno comercial aderido por diferentes grupos.

A música disco bebia direto das fontes do funk, soul e R&B, com características inconfundíveis como o compasso de 4/4 bem marcado, o uso de vozes em coro, os arranjos de metais e cordas e as linhas de baixo groovadíssimas como fio condutor. Projetos musicais como os de Donna Summer e Earth Wind & Fire construíram a história do gênero.

*

Os primeiros e pioneiros DJs comandavam as festas com suas “playlists”, passando a ocupar o lugar de destaque que se mantém até hoje. Os LPs possibilitaram que, pela primeira vez, fosse possível reproduzir uma quantidade incrível de músicas, selecionadas a dedo, de acordo com as preferências do DJ e do público e com o line mais apropriado para cada momento da noite. Foi uma verdadeira revolução.

Essa história aconteceu pelo mundo inteiro, com contornos específicos em cada lugar. No Brasil, primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro, surgiu uma personagem marcante nessa cena: a Papagaio Disco Club.

Anúncio de inauguração da Papagaio Disco Club, em 1976. Projeto Gráfico: Cyro Del Nero/ Reprodução

Em 1976, abriu as portas esta que é considerada a primeira boate brasileira. A sede em São Paulo possuía paredes cobertas por arcos de néon multicoloridos e espelhos. No teto, diversas bicicletas penduradas. Para completar a ambientação, completamente inovadora, havia ainda um sistema de projeção de filmes, rodando diferentes imagens.

A casa noturna atendia a uma parcela com costumes mais progressistas da elite econômica e cultural da época. Além de estar localizada em uma região nobre, cobrava ingressos na entrada e, segundo o próprio dono da boate, Ricardo Amaral, declara em sua biografia, a fórmula da festa incluía um “porteiro arrogante escolhendo quem pode ou não entrar”. Importante ressaltar que, em paralelo, aconteciam, também em São Paulo, os famosos Bailes Black, que também marcaram a época e fizeram frente na cena da cultura disco brasileira.

Matéria sobre abertura da Papagaio Disco Club no Rio de Janeiro. Revista Pop, 1978/ Reprodução.

A Papagaio Disco Club ficou conhecida por seu sistema de som impecável e extremamente potente. Subwoofers em todas as colunas do salão, tweeters de cristal espalhados pelo teto com agudos límpidos e outros alto-falantes médios e graves estavam espalhados pelo ambiente inteiro. Segundo relatou Renato Piau para a Revista NOIZE, em entrevista que pode ser lida na nossa edição #114, Tim Maia e sua banda Vitória Régia frequentavam o lugar. De acordo com Piau, Tim curtia mais a qualidade do sistema sonoro do que a música disco em si. Outra curiosidade é que as fotos para o álbum Tim Maia Disco Club, relançado na edição #050 do NOIZE Record Club, foram tiradas na casa.

Enquanto grupos como As Frenéticas e a Banda Black Rio compunham suas canções na onda da música disco, na Papagaio surgiram alguns dos pioneiros da discotecagem no Brasil. Ricardo Lamounier ficou famoso por ser um dos primeiros DJs a performar na cabine enquanto tocava, além de ser considerado o introdutor de técnicas de mixagem na discotecagem brasileira. A vanguardista Sônia Abreu, considerada nossa primeira DJ, também tocava profissionalmente na boate.

Essa foi a época de ouro do vinil no Brasil e no mundo. Além de comandarem as pistas de dança, as bolachas passaram a ser registros do que rolava nessas noites. A Papagaio lançou, através da WEA e da Som Livre, quatro coletâneas em vinil, com trilha sonora que embalava as noites paulistanas e cariocas. São elas: Papagaio Disco Club (1976), Papagaio Disco Club Vol. 2 (1978), Discoteca Papagaio (1978) e Papagaio Disco Club (1983). Os LPs reúnem artistas como Giorgio Moroder, Sylvester, Judy Cheeks e Voyage

Esses discos são registros históricos de um movimento que marcou uma época e sua geração. Parte importante da história da vida noturna brasileira e do movimento disco pode ser encontrada nessas coletâneas. E também a história da boate Papagaio segue viva em forma de vinil. Esses LPs podem ser encontrados até hoje online e mesmo em sebos, por preços acessíveis. Já imaginou ter uma porta direta para as noites brasileiras dos anos 1970 na sua coleção?

Tags:, , , , , , , ,

06/04/2022

Erick Bonder

Erick Bonder