_por Tomás Bello
Dance punk, pós-punk, new wave… A lista poderia seguir em frente, engolir outros rótulos, mas é o que menos importa. Quando o assunto é The Rapture, a certeza é uma só: o grupo nova-iorquino vai sacudir o seu esqueleto onde quer que você esteja.
“Eu adoro dançar”, confessa o tecladista Gabriel Andruzzi. Não à toa, a banda figura em uma lista da revista Mixmag que reúne os melhores artistas para dançar de todos os tempos.
Na noite desta quarta-feira, 1200 pessoas dançaram com o Rapture no Cine Jóia, em São Paulo. Na sexta é a vez dos cariocas chacoalharem com Gabriel, o vocalista Luke Jenner e o batera Vito Roccoforte, quando a banda faz show no Circo Voador. De lá os gringos descem ao RS, onde são atração do M/E/C/A Festival, que rola no sábado na praia de Xangri-lá.
“É sempre ótimo tocar no Brasil e em países da América do Sul, vocês são sempre muito animados por aí”, avalia Gabriel. Não tão animados assim pareciam estar eles nos últimos anos.
Foram cinco verões até o Rapture quebrar o silêncio pós Pieces of the People We Love, lançado em 2006. De lá pra cá, a mãe de Luke se suicidou, o baixista Mattie Safer abandonou o barco, o grupo deixou a gravadora Universal e, lógico, o sol não brilhou tanto assim. Segundo o tecladista, é tudo passado.
“Acho que nos encontramos novamente, voltamos a fazer algo sincero. A banda está provavelmente melhor agora.”
Sorte nossa. Em In The Grace of Your Love, o trio voltou a namorar a DFA Records – selo de James Murphy, líder do extinto LCD Soundsystem – e foi a Paris gravar suas canções ao lado de Phillipe Zdar, produtor do premiado álbum Wolfgang Amadeus Phoenix, do Phoenix.
É um disco mais intimista que os anteriores, verdade. Mesmo assim, não falha em seus momentos dançantes – “How Deep Is Your Love?”, por exemplo, virou hit instantâneo nas pistas mundo afora.
Gabriel Andruzzi garante que, ao vivo, o Rapture também está diferente. E, quando precisa escolher a track perfeita para dançar, diz que não há nada melhor que música brasileira.
Noize: Lembro de ter visto o Rapture em Auckland, na Nova Zelândia, lá em 2007. Um show que vocês fizeram junto com o Gnarls Barkley, tá lembrado?
Gabriel: Sério?! Lembro sim. Não lembro de detalhes, mas tenho na memória que foi um show até bem legal.
Noize: Pois é, tava muito bacana sim. Melhor que o Garls Barkley. (risos) Agora, você diria que a banda mudou muito desde então? O Mattie (Safer, ex-baixista) saiu, claro, o que já é uma grande mudança. Mas musicalmente…
Gabriel: Ah, sim, a banda mudou sim. Desde que o Mattie saiu os shows mudaram bastante, por exemplo. Ainda estão ótimos, mas diferentes.
Eu nunca gosto de comparar, porque é sempre muito complicado estabelecer paralelos nesse sentido, mas a banda está provavelmente melhor agora. Tenho a sensação de que estamos todos em sintonia, pensando e sentindo a música da mesma maneira, o que não estava acontecendo com o Mattie. Ele não parecia estar mais com o coração ali.
Noize: Então, é apenas coincidência que os seus últimos dois álbuns tem a palavra “love” no título?
Gabriel: É até meio brega falar de música e amor. (risos) O que queremos não é bem isso, é mais como uma “forma de amor”, uma que nos mantém juntos.
Sabe, é algo muito importante para o Luke. Ele nunca teve o amor que precisou, sua família nunca deu a ele amor suficiente. Ele cresceu assim. Mas, acima de tudo, é importante que as pessoas encontrem um significado para elas mesmas.
Noize: Vocês ficaram em silêncio por cinco anos. O que é curioso, porque hoje existem tantos artistas que não duram metade disso, que vem e vão. Por que o Rapture ainda importa pras pessoas?
Gabriel: Eu acho que sempre tentamos fazer da música algo especial, tentamos tocar o coração das pessoas. E esse é o tipo de coisa que dura. Mas, para ser sincero, acho que somos muito sortudos.
Quando lançamos o Echoes muita gente saiu dizendo que estávamos trazendo algo de novo para a música naquele período. E olha que ali não estávamos num momento muito fácil, era um momento complicado para a banda. O processo de gravação do novo disco foi o oposto disso, foi ótimo. Acho que nos encontramos novamente, voltamos a fazer algo sincero, com sentimento verdadeiro.
Essa parece ser a grande questão de hoje: tem muita música sem emoção por aí, muita coisa que não é sincera. E isso não perdura.
Noize: Recentemente, o Rapture foi eleito pela Mixmag como um dos melhores artistas/bandas de música dançante de todos os tempos. Quem você diria que é o maior?
Gabriel: Provavelmente… Ah, não tem apenas um artista. Poderia ser música de carnaval, poderia ser também o James Brown. Ele é o avô da soul music, não é?!
Noize: Sem dúvida. Mas você se colocaria nessa lista?
Gabriel: É importante para nós. Agora, sério, alguém dá a mínima pra o que diz a Mixmag?? (risos) O que eu posso afirmar é que eu adoro dançar.
Noize: Vocês estão em turnê já há algum tempo, têm feito uma porrada de shows. Outro dia vi que o ônibus quebrou no meio do deserto, o que não deve ter sido muito agradável. Em meio a isso, dá pra eleger a melhor lembrança da atual turnê?
Gabriel: A gente tem feito shows sensacionais nessa turnê, difícil escolher um ou outro. Barcelona foi muito bom… Talvez Cidade do México, aquele show foi demais. Eram 30 mil pessoas pulando para cima e para baixo.
Noize: Que tipo de música você ouve no seu iPod quando quer dançar? Algo que seria legal recomendar pro povo aqui no Brasil?!
Gabriel: Sabe de uma coisa?! O meu iPod tá quebrado há um bom tempo, e ainda não dei um jeito de consertar ou arrumar outro. (risos) Lembro que antes dele quebrar eu estava ouvindo muito Caribou.
Mas vou te dizer… Vocês aí no Brasil não precisam ouvir música daqui (se refere a música norte-americana) ou de qualquer outro lugar. Vocês tem a melhor música do mundo.
Noize: Ah, então você gosta de música brasileira, é?
Gabriel: Claro! E adoro. Gosto muito de Jorge Ben, muito mesmo. Ultimamente, não consigo parar de ouvir “Brother”. Mas olha, ouçam a música de vocês que vocês ganham muito mais.
Noize: Isso significa que vocês devem estar animados em pisar mais uma vez em solo brasileiro…
Gabriel: Sem dúvida alguma! Eu posso dizer que estou animadíssimo. É sempre ótimo tocar no Brasil e em países da América do Sul, vocês são sempre muito animados por aí.
Em Sampa, o Rapture deu um gostinho do que cariocas e gaúchos vão ter na sexta e sábado, respectivamente.
Mais infos do show dos caras no M/E/C/A Festival? Aqui. Sobre a apresentação no Circo Voador você encontra detalhes aqui.