Mãeana une João Gilberto e João Gomes em show especial

15/08/2023

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Renan Guerra

Por: Renan Guerra

Fotos: Vicius Moreira/ Divulgação

15/08/2023

Ana Cláudia Lomelino integrou a banda Tono, fez turnês com grandes nomes da MPB e há alguns anos deu vida a sua persona Mãeana. Com o nome artístico, lançou dois excelentes discos – “mãeana” (2015) e “mãeana 2” (2021) – em que versa sobre maternidade, amores, ufologia e universos cósmicos. Para além do seu repertório autoral, a artista sempre esteve experimentando outros cenários: realizou uma tour chamada “Brujas”, ao lado de Letrux, e até se aventurou pelo catálogo de Xuxa em uma série de shows e lives durante a pandemia. Mais recentemente, se tornou moradora de Salvador, local onde uma nova paixão tomou conta de sua vida: João Gomes, o jovem fenômeno do piseiro.

Em 2021, em uma viagem com as amigas na Bahia, ela se apaixonou pelo artista que tocava no repeat. Depois disso, João Gomes não saiu mais dos seus fones. “Aos poucos, fui conhecendo a figura dele e fiquei mais apaixonada por aquele menino que está sempre se declarando para as avós, ele era muito fofinho. Comecei a cantar no Instagram, fiz stories e também inclui as músicas nos meus shows com o repertório de Mãeana. E teve um retorno legal, a galera gostava. Quando surgiu essa oportunidade de pensar um novo show, me veio a ideia de cantar João Gomes”, conta a artista.

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Outra paixão musical tem as mesmas iniciais do que o astro do piseiro: João Gilberto. Mãeana conta que não se lembra como surgiu a sua relação com a Bossa Nova, mas sabe que o estilo faz parte da trilha sonora de novelas que ela amava, como a de “Bambolê” (1987). Pensando na coincidência das iniciais – JG –, a cantora teve a ideia que uni-los em um show especial durante uma residência na Casa da Mãe, no Rio Vermelho, em Salvador. Por lá, a artista se apresenta às segundas-feiras durante o mês de agosto.

Para ela, esta é uma experiência inédita: “A oportunidade mais incrível que eu tive na minha vida. E uma salvação, mesmo. Sabe? Fazer um laboratório, uma residência artística, que é uma coisa que eu nunca tive oportunidade – eu nunca fiz isso. Então toda semana, eu monto um cenário diferente, de acordo com a forma em que eu estou sentindo, lidando com as adversidades do palco e, entendendo que cada show é um show, cada plateia é uma plateia”.

Para esse projeto, Mãeana, e seu marido e colaborador Bem Gil, chegaram ao nome “pisa nova”, uma brincadeira que une a Bossa Nova com o piseiro, uma vez que a artista precisou achar um tom específico para cantar essas canções, dando conta das particularidades de cada um. Um dos pontos cruciais do universo da artista está em sua construção cênica: cenários e figurinos são parte central da figura de Mãeana no palco, por isso a artista adora criar paisagens e ambiências, fazer colagens com texturas diferentes e unir objetos inusitados.

“Eu sou muito apaixonada pelos objetos, eu converso com eles desde pequena. Até estava lendo agora o livro da Rita Lee e vi que ela também tem isso, muito fofa, de quase acreditar que tudo tem vida. Eu sou muito assim, acredito desde pequena nisso, converso com as minhas bonecas, tenho elas até hoje, cada uma tem nome. Então esse cenário que surgiu para o JG são umas colchas que me acompanham há 10 anos, elas já foram usadas de diferentes maneiras: botei no chão pro público sentar na época que eu fazia o show ‘Colo do útero’ na Audio Rebel, ficavam em cima do meu próprio sofá, então eu tenho uma relação com os objetos e tudo isso me ajuda, como se fosse o meu próprio universo”, explica a artista.

Ela esclarece que essa sua paixão nada tem a ver com grandes valores de consumo: “Eu não tenho o menor apego a coisas caras, sou bem muambeira, sacoleira. Vou construindo e costurando uma coisa por cima da outra. Sou muito de camadas, adoro ir colando, trançando e fazendo novas coisas. É muito prazeroso. Uma das coisas que eu mais gosto é de ir no Saara, no Rio de Janeiro, ou na Avenida Sete, aqui em Salvador. Sou apaixonada por essas coisas”.

Falando em paixão, outro amor da artista é a Xuxa, a rainha dos baixinhos. Mãeana já havia feito uma série de shows cantando obras do repertório infantil, desde canções clássicas até faixas mais lado B, que falam sobre ecologia, veganismo e ufologia. Desse processo, gravou um disco com oito canções, mas o projeto acabou estagnado e sem previsão de lançamento: “Estou vendo o documentário [“Xuxa, o documentário”, disponível na Globoplay], continuo apaixonada por tudo, amo essa confusão louca. Ela me faz pensar um monte de coisas, ainda mais essa história da Marlene Matos, muitas coisas”. Fato é que Mãeana tem um repertório amplo dentro do universo da Xuxa e pretende voltar fazer esse show.

De todo modo, nesse momento, a artista está com foco total em JG. Ela se sente como uma adolescente desbravando os outros palcos: “É bem essa analogia da casa de mãe, é como se eu estivesse me nutrindo aqui, comendo a comidinha da Casa da Mãe, pra poder viajar e fazer outras histórias fora desse lugar de proteção”.

Para além do palco, algumas dessas versões foram lançadas em formato de singles nas plataformas de streaming. As duas primeiras foram “Meu pedaço de pecado” e “Tô sem você”, de João Gomes. Na segunda leva, veio uma versão de “Bastidores”, canção de Chico Buarque, que estava bastante presente no repertório ao vivo de João Gilberto, e uma ousadia: a mistura de “Digo ou não digo”, de João Gomes, com o clássico “Insensatez” (Tom Jobim), um exemplo interessantíssimo do casamento proposto por Mãeana na obra de dois artistas tão distintos. Todos os singles foram produzidos por Bem Gil e Sebastian Notini e dão um gostinho de quero mais, deixando a curiosidade de um possível disco reunindo o repertório desse encontro inusitado.

Datas da turnê “Mãeana Canta JG”:

Toda segunda-feira na Casa da Mãe – Salvador;
18 de agosto – Teatro SESIMINAS em Belo Horizonte;
20 de agosto – Estação das Artes em Fortaleza;
24 de agosto – SESC Santos;
25 de agosto – SESC Pompéia em São Paulo.

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15/08/2023

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