“Eu espero acontecimentos.” Por favor, perdoe o clichê. Passei a adolescência inteira cantarolando essa música e não consegui começar este texto de outro jeito. Pois mesmo quando os acontecimentos aconteceram, mesmo quando assisti a Marina Lima pela primeira vez no Auditório do Ibirapuera em São Paulo, onde o fundo do palco se abre para as árvores e alguns corações pulam pra fora do peito, mesmo hoje, essa música segue randômica no que escrevo, no que decido, em quem eu sou. Dia desses, Marina trouxe o show do disco “Clímax” – que aliás foi gestado na cidade, no estúdio caseiro de Edu Martins, músico paulista radicado no sul – para o palco do Bar Opinião. Neste show de lançamento do 19º trabalho da cantora, o público não tinha idade, tampouco era óbvio. E fez um coro afinado exatamente na minha canção. Quase olhei pra frente.
Gosto de pensar ali em frente. Estou aqui, quero estar aqui, mas já estou pensando no que vem. Ouço a Marina desde sempre, gosto disso, de chamar Marina, só um nome, o primeiro, como se fosse uma amiga, alguém que eu ligaria pra me ajudar a entender um silêncio.
Vim porque fazia sentido vir. Engraçado ter demorado este tempo todo pra eu assistir a um show dela. Na real, nem sabia que era fã. Sou. Cantei todas as músicas, enchi o olho de lágrima. A voz dela tá diferente, né? Achei bonito assim. Tem mais força.
Eu brinco de oráculo. Faço uma pergunta e coloco Marina pra tocar, sem ver ordem ou disco ou qualquer coisa. O que ela cantar é a resposta. Olha, tem dado certo.
Cris Lisbôa é escritora, jornalista e coleciona fotos de gente que não conhece. Quando precisa muito ouvir, assiste shows de costas para o palco.