Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.
Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.
E eu te direi: amiga minha, esquece…
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.
Soneto de Aniversário
Como uma entidade que transcende diversas áreas da cultura brasileira, Vinicius de Moraes realmente não envelheceu, como profetizou em seu “Soneto de Aniversário”. Nascido em 19 de outubro de 1913, o poeta, diplomata, dramaturgo, cantor, músico e muito mais segue sendo um dos artistas mais relevantes do nosso país, tendo deixado sua marca na poesia, na música, no teatro e no cinema nacionais.
“Um cara que faz uma poesia como ele faz, ‘Chega de Saudade’, ‘Eu sei que vou te amar’, depois faz um Afro-Sambas… Poxa, que coisa incrível. Que manancial, né? Vinicius não existe”, comenta com carinho Cynara Faria, uma das quatro irmãs fundadoras do lendário Quarteto Em Cy, que acompanhou Vinicius em palcos e gravações por muitos anos. “Viajamos com o Vinicius para tudo quanto é lugar, a América do Sul toda, o Brasil inteiro, depois veio o Toquinho… E sempre foi uma grande festa trabalhar com o Vinicius. Nunca era uma coisa comum, sempre era uma coisa a mais, uma alegria, uma coisa leve. Vinicius foi a pedra fundamental da nossa carreira”, afirma Cynara.
Abaixo, um especial da TV Cultura de São Paulo com Vinicius, Toquinho e o Quarteto em Cy:
– Assim como ele casou um monte de vezes, ele teve um monte de parceiros bem diferentes entre si, né? Ele gostava dessa coisa de repartir, era muito generoso, de uma maneira geral. Dava força para as pessoas comporem. Lançou uma série de pessoas novas que, talvez, sem o incentivo dele não teriam virado os compositores que viraram – completa Miúcha. Tom Jobim, Baden Powell, Toquinho, Chico Buarque, Jards Macalé, Edu Lobo e Carlos Lyra são exemplos famosos de músicos que foram parceiros do poeta ainda no início de suas carreiras, mas vale lembrar que Vinicius chegou a compor com gigantes de outras gerações, como Pixinguinha e Adoniran Barbosa.
Vinicius foi um homem apaixonado pelas relações e, quem teve o prazer de conhecê-lo, não esquece. Miúcha se diverte ao lembrar que conviveu com ele desde a época em que estava na barriga de sua mãe: “Eu não posso dizer quando conheci Vinicius porque provavelmente ele já ia lá em casa, e já era amigo dos meus pais, antes de eu nascer, era uma presença constante lá. Vinicius era grande amigo do meu pai. E quando ele surgiu, foi uma revolução. Jovem poeta, muito talentoso, com dez anos a menos que meu pai”, comenta a cantora que é filha de Sérgio Buarque de Holanda, irmã de Chico Buarque, ex-mulher de João Gilberto e mãe de Bebel Gilberto.
Veja abaixo Miúcha dividindo o palco com Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Toquinho na Itália:
Celebrando o aniversário de Vinicius, será lançado hoje o DVD do documentário Vinicius de Moraes, um rapaz de família (1983). Esse material inclui uma faixa comentada por Adriana Calcanhotto, Eucanaã Ferraz, Julia Moraes e Tuca Moraes, e um livreto com textos de Walter Salles, Pedro Butcher e depoimento de Robert Feinberg. O filme será exibido logo mais, às 19h30, com entrada franca, no IMS Rio de Janeiro (mais informações aqui).
Dirigido por Susana Moraes, uma das filhas de Vinicius, esse documentário apresenta um olhar extremamente íntimo sobre o seu protagonista, como um retrato afetivo sem paralelo. Veja abaixo um trecho: