Fresno lança segunda parte de disco com Filipe Catto e NX Zero

01/10/2024

Powered by WP Bannerize

Thuanny Judes

Por: Thuanny Judes

Fotos: Divulgação/ Camila Cornelsen

01/10/2024

Depois do lançamento de Eu Nunca Fui Embora – Parte 1, em abril deste ano, a Fresno retorna com a aguardada segunda parte do álbum. Disponível nas plataformas digitais desde 26 de setembro, Eu Nunca Fui Embora – Parte 2 completa a celebração dos 25 anos de estrada e reflete a maturidade musical de Lucas Silveira, Vavo e Guerra, que mesmo se mantendo firmes em suas raízes musicais, se mostram dispostos a seguir explorando novas sonoridades.

*

Assim como a primeira parte do álbum, a segunda conta com sete faixas, mas aposta em mais feats com nomes de peso, como NX Zero, Chitãozinho e Xororó, Dead Fish e Filipe Catto. A canção que abre o lançamento é “A Gente Conhece o Fundo do Poço” e segue com “Se Eu For Vou Com Você”, que traz o tão esperado feat com NX Zero. “Esse feat é quase uma reparação histórica”, conta Lucas, fazendo referência aos anos de pedidos de fãs por essa colaboração desde o início das duas bandas na cena musical dos anos 2000. Apesar dos integrantes manterem diversas interações ao longo dos anos, a parceria no estúdio ainda não havia acontecido.

Eu Nunca Fui Embora passeia por diferentes temas, como o apego e a saudade em “Fala Que Ama”, e reflexões sobre a vida artística em “Essa Vida Ainda Vai Nos Matar”, em parceria com Dead Fish. Segundo Lucas, a faixa mostra um pouco das raízes da banda, de como a Fresno começou dentro da cena do hardcore tendo Dead Fish como uma de suas influências.

A trilogia composta por “Diga, parte 1” (2021), com o guitarrista Mateus Asato, e “Diga, parte 2” (2022) ganha seu capítulo final com Filipe Catto em “Diga, Parte Final”: “É justamente esse fechamento amargo de que não era para ser mesmo e pronto, paciência. Vamos para a próxima”, afirma Lucas.

O desfecho do álbum vem de forma marcante com “Canção Para Quando O Mundo Acabar”, single sombrio que explora sentimentos de solidão e descontrole. E a faixa bônus “Camadas”, que traz emocionante colaboração com Chitãozinho e Xororó.

Em entrevista, a banda reforça que, mesmo após tantos anos de carreira, ainda tem muito a dizer e continua a surpreender com suas escolhas musicais.

Eu Nunca Fui Embora foi dividido em duas partes para que vocês pudessem saborear e curtir as novas músicas com calma. Como foi o processo de gravação e produção?


Lucas:
Ele foi feito como um álbum só, mas surgiu a ideia de dividir ele, de fazer com que o clima de lançamento durasse mais. Para mim, é a melhor parte: quando você abre uma janela grande pra ter novos fãs, coisas novas a dizer, até pra dar entrevista. E também jogando um pouco contra o imediatismo do público, das redes sociais e das plataformas. Até para a gente conseguir entender quais músicas da primeira metade surtiram efeito e, às vezes, até mudar um pouquinho de algumas coisas na segunda parte, dar esse tempo, ter uma manobra. Ao longo dos anos, vai soar como uma coisa só, porque ele foi feito pra ser uma coisa só.

Na parte 2, vocês apostaram em mais participações especiais. Como foram essas escolhas?

Lucas: Vem muito do quão legal é poder unir tantas coisas assim num álbum e isso fazer sentido, saca? Porque em algum grau, em graus diferentes, inclusive, todos esses artistas têm muito a ver com a nossa história e com a gente, com a música que a gente faz, e às vezes cristalizar isso num lançamento é o que faz as pessoas, até quem não enxergou sentido naquilo, ir atrás e ver. Eu lembro quando a gente chamou o Emicida para cantar com a gente em 2014, ele ainda era um pouco novidade, e eu me lembro que uma parte do nosso público estranhou, mas a gente já sabia que vários fãs de Emicida eram fãs de Fresno e vice-versa. E, às vezes, tinha nas pontas alguma coisa que não se relacionava, mas hoje tem muito a ver as duas coisas, apesar de musicalmente não conversar tanto, mas no fundo, se ampliar um pouco o espectro e a análise, se conversa muito, sim. Então, vem muito de uma realização saber que a gente pode reunir num lançamento todas essas potências, todas essas pessoas têm a ver com a nossa história, cada um da sua maneira, e levar para os fãs uma experiência que só a gente poderia ter levado.

Isso tem bastante a ver com a participação da Pablo Vittar na primeira parte. Para muitas pessoas, pode ter sido até uma surpresa, mas fazia muito sentido para a música. Todas essas participações estão bastante ligadas, inclusive, à sonoridade das canções?

Guerra: Todas as músicas que têm participação são muito conectadas com a participação que está nelas.

Vavo: E eu diria até que elas têm origens diferentes. NX Zero é uma parceria de duas bandas que tocaram durante muito tempo juntas; Chitãozinho e Xororó, meio que coroa o que aconteceu há mais de 15 anos; a Filipe Catto foi mais escolhida de acordo com a música e com as necessidades da música. E numa lista de sete músicas, quatro delas têm participação, ou cinco de 14, se você somar a Pabllo e a primeira metade do álbum, e isso é algo que a gente nunca tinha feito. Eu acho que o máximo de parcerias que tínhamos, até agora, foram duas. E isso não tem acontecido só com a gente, mas com todo mundo. Essas parcerias têm acontecido cada vez mais. Obviamente, toda questão digital, com cada um gravando na sua casa, possibilita muito mais. É legal para quem consome a música, as plataformas ajudam a popularizar isso. E, para a gente, ter essas cinco participações de artistas tão grandes, tão relevantes e tão importantes, é muito legal.

\Esse match musical é muito interessante. Algumas faixas parecem até ter sido compostas por esses músicos, mas não foram. E mesmo assim, combinam muito com a identidade musical deles. “Essa Vida Ainda Vai Nos Matar”, por exemplo, parece ter sido composta pelo Dead Fish.

Lucas: E não existiria outra pessoa para estar nessa música. Às vezes o público não prestando atenção, ou o público que conhece a gente há menos tempo pode achar que Fresno e Dead Fish não tem nada a ver, mas a gente tem um ancestral comum, que é o underground, que é o punk rock, o hardcore. Os primeiros shows que a gente fez foram com Dead Fish ou com bandas que eram influenciadas por eles, que sempre foram uma referência pra nós. O primeiro show que eu me lembro de ter ido do Dead Fish, o Vavo deve ter ido também, em 2004, 2003, por aí.

Vavo: No início do show, o Rodrigo falou “nós somos a banda Juice Man”, porque tinha uma banda de abertura com esse nome, mas os caras não foram tocar. E eu acreditei que eles eram a Juice Man porque naquela época a gente não sabia a cara dos caras dos Dead Fish, aí quando eles tocaram a segunda música, eu pensei “eu conheço essa música”. [risos] .Então tem muita coisa que tem a ver, e é muito bonito ver essas histórias se misturando. E quando o Rodrigo entra cantando as coisas, eu não fiz pensando no que ele iria cantar, mas quando fui descobrir quem ia cantar qual verso, era óbvio, é uma conquista muito foda.

Vocês falam de Eu Nunca Fui Embora como um reflexo da maturidade musical de vocês. Como perceberam esse processo ao longo desses 25 anos de carreira?

Lucas: Acho que era mais difícil ter umas participações num disco antes. Imagino que os próprios artistas às vezes não viam tanto sentido quando se vê hoje em participar da música de uma outra pessoa, ou se achava que era mais difícil o lance de gravar e juntar num mesmo lugar, mas acho que a pandemia acelerou muito esses processos. Claro que é melhor quando junta todo mundo, mas é possível fazer. E é legal ter o meu trabalho relacionado ao trabalho daquela pessoa, e a maneira com que as plataformas se organizam tornando uma coisa linkável. Isso pode multiplicar as maneiras de ter novos públicos conhecendo a tua música. Esse é o grande lance hoje: o quão impensável era há uns anos um artista brasileiro ter um feat com um gringo de muito sucesso? Os gringos não estavam nem aí, mas hoje os caras também entendem o tamanho do mercado do Brasil. Então, o feat é um caminho muito massa pro crescimento de um artista, mas no nosso caso a gente põe essas pessoas na música só porque é legal mesmo. [risos]. É lindo ter uma banda que durou tanto tempo e que, ao final de vários anos, ainda continua tendo uma relevância para um público ali e conseguindo conectar pontos tão distantes assim nessa paisagem musical do Brasil e estar vivendo disso há tanto tempo e experienciando meio que o seu melhor momento agora. Então, eu só acho lindo, assim. É por isso que a gente faz festa quando lança um disco. A gente não faz uma coletiva. A gente faz uma festa, mano, porque é de fato uma conquista, é algo a se comemorar. Ter o tempo que a gente tem de estrada, ter a quantidade de discos e músicas que a gente lançou e ter o tamanho que a gente tem hoje.

A cena emo ressurgiu e está sendo abraçada por um novo público. Qual é a diferença que vocês veem entre o período que consagrou a Fresno e o revival que vem acontecendo?

Lucas: Esse revival é super digital. Para nós é diferente analisar isso porque a gente está no meio disso e se manteve vivo durante todo esse tempo. Já não é uma novidade, mas não é mais visto de maneira pejorativa. Então, é massa ser mais valorizado depois de uns anos. E é importante entender que, assim como aquele momento lá atrás, quando o emo surgiu meteoricamente, foi muito grande, depois deu uma caída e agora tendo um revival muito grande, é muito importante analisar a nossa história como algo maior do que isso e, obviamente, aproveitar as ondas, surfar as ondas, mas sabendo que elas também passam. O que fazer para fidelizar aquele público? Eu gosto muito de olhar para a carreira de um Humberto Gessinger: ele vai ter show todo final de semana em uma casa muito grande, em algum lugar do Brasil, e vai ter um monte de gente. Os fãs dele são muito passionais e tem aquela coisa messiânica em torno dele. Mas se você conversar com uma pessoa que não o acompanha, pode se perguntar se os Engenheiros do Hawaii não existem mais, sabe? De repente, pode ser que role um hype de Engenheiros do Hawaii gigante, assim, assim como está rolando com o emo, com Deftones, e até com Raça Negra um tempo atrás. Se isso acontecer, o Humberto vai estar bem porque ele já estava presente, surfando na onda. São carreiras maiores do que esses momentos. Mesmo que a maré não esteja muito a teu favor, é importante que tu continue fazendo ali, com teu trabalho de formiguinha, sem pensar muito nas coisas.

LEIA MAIS

Tags:, ,

01/10/2024

Thuanny Judes

Thuanny Judes