Poesia pra tocar no Radio | Patricia Palumbo

15/08/2012

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Por: Revista NOIZE

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15/08/2012

_por Patricia Palumbo

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Sempre que escrevo sobre esse tema recorro ao titulo do livro da poeta Alice Ruiz que é uma coletânea de suas deliciosas letras de canção. Seus parceiros são Itamar Assumpção, Arnaldo Antunes, Alzira E., Zé Miguel Wisnik, só alto calibre.

Mas o que me move dessa vez é o novo livro de Antonio Cícero que ganhei de presente de Arthur Nogueira, jovem compositor e cantor paraense que sempre me recebe em Belém e deixa minhas passagens por lá mais bonitas e acolhedoras. O livro se chama Porventura, e é o terceiro que Cícero publica. O primeiro foi Guardar em 1997, depois veio A Cidade e os Livros em 2002.

Só não parece que demora tanto porque suas palavras nos frequentam pelas ondas do rádio. Desde que Marina Lima, mexendo nas coisas do irmão, musicou um poema dele lá pelo final dos anos 70, somos agraciados com essas maravilhas. No Lp Simples como Fogo (estréia de Marina em 79) metade das letras é assinada por Antonio Cícero, inclusive a que dá nome ao disco: “o meu amor faz coisas simples como o fogo…e eu queria ser como ele, assim cruel como o mundo, e tão simples”.

“Fulgás” também é de Cícero e um ano após o outro sua poesia vem se derramando sobre nós. Com Adriana Calcanhotto temos outras pérolas e a primeira parceira foi no disco Senhas de 92 (o segundo LP dela) com Agua Perrier e as mais recentes (ao menos em disco) estão no Cantada de 2002.

Foi também nos anos 70 que Paulo Leminski, outro poeta íntimo da música, disse que o suporte para a poesia contemporânea seria a canção. Os concretos Augusto de Haroldo de Campos já faziam poesia fora da caixinha e isso foi inspiração e libertação pra muitos poetas se transformarem em letristas. Há poesia na letra da canção, é claro. Como há poesia no ” jeitinho dela andar”, “nas cores de Almodóvar”, em pessoas que presenteiam livros. Poema é outra coisa.

Enquanto escrevo chega na minha porta o primeiro livro de Natália Barros, Caligrafias. Natália foi vocalista do grupo Luni, banda paulista de um disco só mas que fez história na cabeça de quem viveu os anos 80 aqui em São Paulo. Leio livros de poesia como oráculos e acredito no poder da sincronicidade, por isso vou copiar aqui um escrito qualquer do livro que acaba de chegar:

OFELIA
vencida
nocauteada
insone
ensimesmada
vendo pelo avesso
senhora fora de si
senhora das afogadas
vencida pelo óbvio
pelo cansaço
pelo acaso você chegasse
no meu chatô encontrasse
a mulher que você deixou

(à beira de um regato num bosque em flor)

E isso me me lembra Itamar Assumpção, ele mesmo um poeta, e a música poema “Ausência” de Ademir Assunção que faz parte do Intercontinental, Quem Diria!

Meu bem,
Bem que você podia
pintar na sala
da minha tarde vazia
como na poesia.

@patriciapalumbo é apresentadora dos programas Vozes do Brasil, no rádio, e o Instrumental Sesc Brasil na telinha. E uma de nossas jornalistas favoritas.

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15/08/2012

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