_por Patricia Palumbo
Acompanho os espetáculos do grupo Corpo com especial atenção. A companhia mineira sempre dança com a melhor música feita especialmente para eles, algumas por autores nacionais. Lenine fez Breu, Tom Zé fez Parabelo e Santaugustin, João Bosco fez Benguelê, Arnaldo Antunes fez O Corpo, Caetano Veloso fez com José Miguel Wisnik a trilha de Onqotô.
Wisnik, alias, é o campeão, fez também Nazareth e a mais recente, Sem Mim em parceria com o compositor espanho Carlos Nuñes, além de dividir Parabelo com Tom Zé. Os meninos do +2 (Moreno, Domenico e Kassin) assinaram Imã. É lindo assistir essas criações maravilhosas dançadas por eles. Os discos fazem o maior sucesso e são o pedacinho do Corpo que a gente leva pra casa no final de cada maravilhosa noite.
Sem Mim tem as vozes de Milton Nascimento, Chico Buarque e Rita Benedito (ex-Ribeiro) pra falar de amor e amizade, saudade e encontro. Carlos Nuñes é de Vigo e as canções também falam do mar que leva e traz de volta os amantes. Tudo foi criado a partir de um unico conjunto de peças do cancioneiro medieval galego –português com partituras de época, uma preciosidade.
Música para dançar nesse caso ganha outra densidade. Para nós, mortais que simplesmente se mexem ao ouvir um som que emocione as vezes basta o bom e velho rock’n roll. Eu gosto particularmente de dançar Aretha Franklin. Nunca louvar a Deus foi tão divertido e sexy quanto no seu repertório gospel. As letras literalmente mandam balançar os quadris e mexer a cintura. Genial e delicioso. Nada mais perfeito pra uma tarde de chuva sozinha em casa. Aretha Franklin bem alto! Inclusive e especialmente as que também louvam o amor. Recomendo.
Esses dias comprei na banca o disco de Fred Astaire, dançarino e cantor ícone pop. Andy Warhol devia ter feito alguma coisa com ele. Fred foi criado pra ser sucesso. Fazia par com a irmã quando meninos e passou a vida dançando, cantando e fazendo filmes. Lançou clássicos de Cole Porter, de Irving Berlin e dos Gershwin. Maravilhas que depois foram gravadas pelas divas Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald, por exemplo.
Mas nunca foi assim tão conhecido como cantor. Eu adoro. Nesse disco da banca tem uma boa seleção que inclui a adorável “Cheek to Cheek” que Astaire canta pra Ginger Rogers em Top Hat. É um standar da canção norte americana que fala de um hábito que pra minha infinita tristeza não existe mais, que é dançar juntinho. Ou como diz a música perfeita de Irving Berlin, com o rosto colado, bochecha com bochecha…
Ai, a nostalgia do que não se viveu, é a melhor de todas. A verdade é que tenho 47 anos e meus bailes foram embalados pela figura de John Travolta e a trilha dos Bee Gees. Era muito bom… E Fred Astaire, meu amado par, só frequentava mesmo a tv nas sessões da tarde depois do colégio cantando “Heaven, I’m in Heaven…”
Gosto muito de dançar. Escutar com o corpo. Sozinha com Aretha ou de rostinho colado na pista da sala de casa “when my heart beats so that I can hardly speak…”
@patriciapalumbo é apresentadora dos programas Vozes do Brasil, no rádio, e o Instrumental Sesc Brasil na telinha. E uma de nossas jornalistas favoritas.