Quando o show da Ventre em parceria com E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante terminou, eu sinceramente não conseguia pensar no que escrever. Cada segundo da apresentação ficou tão marcado na minha mente que parecia quase desnecessário tentar registrar alguma coisa em texto ou fotografia. Ainda não inventaram palavras suficientes para descrever toda a qualidade que as duas bandas do sudeste apresentaram na noite de quarta-feira, terceiro dia do Festival Bananada.
Pra começar, o Teatro Sesc Centro estava completamente lotado – e não havia uma pessoa lá dentro que não estivesse completamente hipnotizada. O setlist abriu com “Medo de Tentar”, da banda paulista, seguida por “Bailarina”, que o trio carioca tocou sozinho. Logo foi a vez de “Peso do Corpo”, quando uma das cordas da guitarra de Gabriel Ventura estourou no meio da música. Mas isso não impediu que ele continuasse como se nada tivesse acontecido e ainda fizesse seus riffs que já se tornaram marca registrada. É como disse o próprio vocalista: “Essas coisas acontecem, né, bicho?”
As bandas iam intercalando seus sons, misturando todo o peso do som da Ventre (que se apresenta no Palco Chilli Beans do Centro Cultural Oscar Niemeyer nesta sexta) com o instrumental contagiante da EATNMPTD. A formação mudou várias vezes durante a apresentação, dando uma cara nova para as canções do trio carioca já conhecidas e amadas pelo público como “Carnaval” e “Mulher” – que são ainda mais intensas e apocalípticas ao vivo graças à bateria de Larissa Conforto e ao baixo de Hugo Noguchi (que, aliás, tocava vestindo a camiseta da El Toro Fuerte, que toca no Palco Spotify do CCON neste domingo).
Mesmo com sete músicos de duas bandas diferentes no palco, nada parecia fora do lugar. A sincronia era tão grande que era fácil acreditar que Larissa comanda os beats da E A Terra há anos. Os sons crescentes e cheios de camadas do quarteto paulista ficaram ainda mais densos acompanhados da guitarra de Ventura, e a felicidade de todo mundo que tocava ali era escancarada. Os sorrisos rasgados no palco só não eram maiores do que os de quem estava na plateia absorvendo tudo aquilo.
O terceiro dia de festival também teve apresentações de Justine Never Knew The Rules, Lava Divers, dos chilenos Magaly Fields e Perrosky, de Esdras Nogueira e da Trem Fantasma. Ainda sob um transe provocado pelo show no Sesc Centro, segui para o Diablo Pub para o showcase do Tenho Mais Discos Que Amigos.
A Black Drawing Chalks fez uma das apresentações com a plateia mais enlouquecida até agora no festival. O som cru da banda goiana que cita “rock, mulheres e bebida” como suas influências foi suficiente pra levar todos os fãs à loucura.
Estando num bar que serve drinks chamados Boogarins e Carne Doce, não é surpreendente que a estrutura torne possível apresentações intensas com uma iluminação psicodélica. Ainda por cima, o terreno já estava muito bem preparado quando a Far From Alaska subiu no palco depois da explosão do show anterior.
A banda meio paulista, meio natalense ainda deu um presente para o Bananada, tocando várias músicas inéditas do disco novo pela primeira vez ao vivo. Era o sétimo show deles em Goiânia, e não há como negar que a voz granuladíssima e potente de Emmily Barreto ecoava por cada parede.