P.O.V.: você está em um sebo, mexendo nas prateleiras, e encontra o LP de um dos seus álbuns preferidos. Uma alegria sem tamanho toma conta do seu corpo e então você pensa: “Preciso levar esse pra casa”. Beleza, show de bola, você está feliz, mas é melhor segurar a emoção. Dependendo do ano de lançamento, bolachas encontradas em sebos podem ter passado por incontáveis mãos, com donos cuidadosos, ou não. E você precisa saber julgar a qualidade de conservação do disco antes de levar ele para a sua coleção.
Neste texto, vamos abordar alguns dos critérios para analisar um LP usado, buscando construir um guia básico para você que ainda não tem o costume de fazer o garimpo em sebos. Também vamos dar algumas dicas específicas para buscar discos na internet. Após essa leitura, você vai ter as noções necessárias para distinguir os discos usados em bom estado daqueles que já não soam muito bem, além de também conseguir avaliar o preço cobrado pela bolacha e entender a raridade do LP que vai entrar na sua coleção.
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Para começar, confira a capa e as proteções de plástico
Na semiótica, índice é aquilo que, por relação de proximidade recorrente entre dois elementos diferentes, comunica um significado específico. Vamos usar, como exemplo, um ditado popular: “Onde há fumaça, há fogo”. Fumaça é índice de fogo, ou seja, na maioria das vezes em que se vê fumaça, é porque naquele lugar também há fogo. Afinal, a fumaça vem do fogo.
Em uma semiótica dos LPs usados, podemos, muitas vezes, adaptar por algo assim: “Onde há capa estragada, há disco danificado”. As capas dos LPs não apenas são lindíssimas, como também servem, antes de qualquer coisa, para proteger o disco e, por isso, quando danificadas, podem não cumprir tão bem sua função. É de se supor que, quando a capa está mal cuidada, o disco também foi maltratado pelo tempo. Uma capa estragada é índice de um LP estragado.
Quando você estiver no sebo revirando as prateleiras, confira se não há avarias, como rasgos, desgaste extremo, amassados, sinais de mofo ou ondulações por contato do papel com líquidos. Outro detalhe que você deve conferir são os plásticos protetivos, principalmente o interno, no qual é posto o LP. Se a capa de plástico interna estiver em bom estado, isso já terá ajudado a conservar o disco. Já as capas de plástico externas não são necessariamente obrigatórias, mas são outro bom índice de que o disco estava sendo bem cuidado antes de passar pelas suas mãos.
Quando você estiver comprando pela internet, não esqueça de conferir, através das fotos enviadas pelo vendedor, todos os detalhes que citamos acima e todos os outros que ainda citaremos adiante. Sempre solicite fotos da capa, do disco e de todos os detalhes antes de comprar on-line.
Como diferenciar um disco em bom estado de um disco danificado
O tempo é implacável. Por isso, é muito difícil encontrar um disco usado que não tenha absolutamente nenhum tipo de desgaste, marcas ou outros tipos de danos, mesmo que muito superficiais. Se você não é um audiófilo extremamente criterioso, não precisa se preocupar em encontrar discos praticamente zerados (que às vezes saem por preços exorbitantes, inclusive), mas sim encontrar LPs que estejam em um estado de conservação razoável e soem bem no seu toca-discos.
A primeira coisa que você deve conferir é se o disco não está empenado. Afinal, com o manuseio e armazenamento inadequados, mesmo a verga entorta (imagine, então, os LPs, frágeis como são). A qualquer sinal de empenamento, sugerimos que você reconsidere e procure por mais tempo outro vinil do álbum que esteja em melhor estado. Se for algo leve, é possível que ele toque, mas também existe o risco de que a execução desse disco estrague sua agulha ou cause outros danos ao toca-disco. Em geral, não vale a pena o risco.
Também confira atentamente a superfície do disco (tanto no lado A, quanto no lado B, vale ressaltar). No sebo, é bom usar a lanterna do celular para analisar esses detalhes. O vinil dos discos novos é reluzente, enquanto a superfície dos discos que já estão desgastados tem certa opacidade. Analise contra a luz para ver se os lados do LP não possuem riscos profundos ou manchas. Também vale conferir o estado de conservação do selo, em ambos os lados da bolacha. No disco ideal, a superfície e o selo estarão intactos, sem nenhum tipo de marca. Mas, como dissemos acima, não estamos necessariamente procurando o disco ideal, mas sim um disco em bom estado.
Se houver um ou outro arranhão leve, superficial, o disco ainda pode passar pelo seu crivo e ir parar na sua casa, com os outros discos da sua coleção. Talvez ele chie um pouco, mas provavelmente não irá pular. Por mais que você mantenha seus olhos 100% atentos na hora de analisar a superfície do disco, não há garantias de que o som estará perfeito, quase perfeito ou muito bom. A única maneira de tirar a prova dos nove é colocando a bolacha para girar em uma agulha.
No sebo, se for possível, peça ao vendedor para fazer um teste no toca-discos da loja. Se o LP estiver soando bem, sem chiados (ou com chiados quase imperceptíveis), você pode ficar tranquilo. Caso o disco esteja com algum arranhão, faça um teste colocando a agulha para tocar na faixa em que está o defeito. Se você não perceber nada no som, o caso está encerrado e você pode passar a chamar o disco de seu.
Nas compras online de usados, o buraco é mais embaixo. Mesmo com fotos e vídeos, a certeza nunca é absoluta. Por isso, recomendamos que você faça uma boa pesquisa para encontrar vendedores confiáveis e sempre troque uma boa ideia antes de tomar suas decisões.
Este disco é raro? Como avaliar o valor cobrado?
Além do estado de conservação, há outros fatores que influenciam no preço de um disco usado. No universo do vinil, a lógica das coisas é bem peculiar. Às vezes, um LP usado pode custar muito mais caro que um LP novo, por haver poucos exemplares da prensagem original disponíveis no mercado. Se você der a sorte de encontrar por aí um disco raro que esteja bem conservado, é quase certo que precisará desembolsar uma bela bolada para garanti-lo na sua coleção.
Pra entender a raridade de um disco, você deve considerar um novo conjunto de fatores. Não é o ano de gravação que determina a raridade. Se, na época do lançamento, a prensagem do LP que você procura foi muito grande, o preço dele não deve ser muito alto, mesmo dos exemplares bem conservados. Mas procurando um disco de algum artista alternativo, que na época de lançamento não era tão comercial e ganhou uma prensagem pequena, é muito provável que, hoje em dia, existam poucos exemplares bem conservados dessa gravação. Nesse caso, o disco é raro e, para ter ele na sua coleção, será necessário investir um pouco mais.
Você também pode dar a sorte de encontrar um disco raro por uma ninharia, caso se depare com um vendedor desprevenido (mas esses caras são tão raros quanto o disco que você procura). Ou também pode acontecer o contrário, com alguém que tente “vender gato por lebre” para você, cobrando muito caro em um disco que nem é tão raro assim. Você é que precisa ficar esperto para evitar esse tipo de situação.
Seu dever de casa, antes de sair comprando um disco, é fazer uma pesquisa a respeito dele. Quanto mais informações você tiver a respeito, mais chances tem de acertar na hora de realizar a compra. Acessando o Discogs, você consegue diversas informações importantes, como o número de prensagens em vinil que o álbum teve, a média de preço cobrada por um exemplar bem conservado e o tamanho da demanda que existe pelo disco atualmente. O Mercado Livre também reúne muitos vendedores de discos, mas, assim como no Discogs, muitas vezes seus preços são inflacionados se comparados aos dos sebos físicos. Outra desvantagem dos vendedores virtuais é que a compra online dificulta a arte da pechincha, que é praticamente uma marca registrada dos sebos físicos.
Agora é com você
Depois disso tudo, você está pronto para sair por aí procurando LPs para a sua coleção. Uma das coisas mais prazerosas do mundo do vinil é justamente essa: ir montando sua coleção de um jeito bem seu, com seu gosto e sua cara. O prazer de ouvir um disco que você passou um tempão procurando é inigualável. Se divirta nos sebos, feiras e lojas de antiguidades da sua cidade.
E para complementar sua coleção com discos inéditos em vinil ou até com raridades repensadas a um custo acessível, entre para o NOIZE Record Club. Aqui no clube nós fazemos todo mês um lançamento de peso, pensando no que cada obra agrega para a coleção dos nossos assinantes. Neste mês de março, por exemplo, estamos lançando Opinião de Nara (1964), da essencial Nara Leão, pela primeira vez em vinil desde a prensagem original de 1964, contando com uma remasterização feita a partir das fitas master originais da época. Faça parte do clube e garanta a história da MPB no seu toca-discos!